A obra do romancista, dramaturgo e folclorista Ariano Suassuna faz parte dos conteúdos mais cobrados nos vestibulares e no Enem. Veja aqui tópicos essenciais e dicas para mandar bem nas provas.
Uma leitura gostosa, leve e que nos faz mergulhar na cultura nordestina. Ariano Suassuna conquista leitores com seus personagens carismáticos. São livros geniais que ganharam vida também nas telas de cinema e seriados de televisão. Quem não simpatiza com João Grilo e Chicó, personagens no Auto da Compadecida?
Outro personagem que ganhou o mundo pela arte de Suassuna foi Euricão, divertido em sua avareza em O Santo e a Porca. Ariano Suassuna geralmente é estudado por suas obras regionalistas, enquadradas na terceira geração do movimento modernista.
A obra de Suassuna é composta por elementos do simbolismo, barroco e a literatura de cordel. Veja aqui uma introdução genial de Ariano Suassuna com a professora Camila Zuchetto Brambilla, do canal do Curso Enem Gratuito:
Introdução à obra de Ariano Suassuna:
Ariano Suassuna é um dos grandes nomes da cultura nordestina. Exaltado principalmente pela atuação no teatro brasileiro, o escritor fundou o Movimento Armorial nos anos 70, que tinha como objetivo utilizar a cultura popular para formar uma arte erudita.
Entre as obras desse autor, destacamos alguns nomes: “Um Mulher Vestida de Sol” foi à primeira peça escrita. As mais conhecidas foram “Auto da compadecida”, de 1957, e “O Santo e a Porca”, de 1964, a primeira, inclusive, ganhou versões no cinema e na televisão.
Estilo: O nome do escritor é sempre atrelado ao teatro, principalmente pelo papel que desempenhou na modernização do teatro brasileiro. A produção teatral de Ariano Suassuna tem como característica a improvisação e o texto popular.
Ariano e o Modernismo
Veja os principais autores da Terceira Geração Modernista: Clarice Lispector, Guimarães Rosa, e Ariano Suassuna:
O Movimento Armorial
O escritor coloca muitos elementos da cultura nordestina em suas peças. Suassuna foi um dos fundadores do Movimento Armorial, que buscava criar a arte erudita através da cultura popular nordestina. O movimento inclui os diferentes tipos de arte, como dança, literatura, teatro, música e arquitetura.
Ariano recebeu o apoio da Universidade Federal de Pernambuco e de vários escritores nordestinos, o Movimento Armorial foi lançado em 1970.
Auto da Compadecida
A peça teatral Auto da Compadecida foi escrita em 1955. É um drama nordestino, composto por elementos da tradição da literatura de cordel e do barroco, que aparece na mistura da cultura popular e tradição religiosa. Apresenta na escrita traços de linguagem oral, recurso utilizado para caracterizar os personagens e suas classes sociais. O gênero da peça é comédia.
Personagens do Auto da Compadecida:
Os personagens de “Auto da Compadecida” são alegóricos, ou seja, não representam indivíduos, mas tipos que devem ser compreendidos de acordo com a posição estrutural que ocupam. A criação desses personagens possibilita que se enxergue a sociedade de uma cidadezinha do Nordeste.
É por isso que a peça pode ser chamada sátira social, pois procura reformar os costumes, moralizar e salvar as instituições de sua vulgarização.
Palhaço:
é o anunciador da peça e também o grande comentador das situações. Suas falas apresentam muitas vezes um discurso mais direto, que dá a impressão de vir do autor. Na verdade, o Palhaço exerce função metalinguística no espetáculo, ao refletir sobre o próprio mecanismo mágico de produção da imitação e ao suprimir a distância entre realidade e representação.
João Grilo:
protagonista, personagem pobre e franzino, que usa de sua infinita astúcia para garantir a sobrevivência. Já foi comparado a Macunaíma, o herói sem caráter. Tal comparação, no entanto, revela-se inadequada, já que João Grilo, ao contrário do personagem criado por Mário de Andrade, trabalha de forma dura, ajuda seu grande amigo Chicó e tem como justificativa de suas traquinagens ser assolado por uma pobreza absoluta.
O mais acertado seria compará-lo ao personagem picaresco, encontrado no romance medieval Lazarilho de Tormes. Mas nem é preciso ir tão longe, pois Pedro Malazarte – cuja origem ibérica está em Pedro Urdemalas – é o personagem popular mais próximo de João Grilo.
Chicó:
é o contador de causos, o mentiroso ingênuo que cria histórias apenas para satisfazer um desejo inventivo. Chicó se aproxima do narrador popular, e suas histórias revelam muito do prazer narrativo desinteressado da cultura popular. Chicó e João Grilo são como a dupla de palhaços entre os quais a esperteza é mal repartida — um sempre a tem de mais e o outro, de menos.
Padre João: mau sacerdote local, preocupado apenas em angariar fundos para sua aposentadoria.
Sacristão: outro exemplo de mau religioso.
Bispo: juntamente com o padre João e o sacristão, ajudará a compor o quadro de representação da Igreja corrompida.
Antônio Moraes: típico senhor de terras, truculento e poderoso, que se impõe pelo medo, pelo dinheiro e pela força.
Padeiro: representante da burguesia interessada apenas em acumular capital, explora seus empregados e tem acordos com as autoridades da Igreja.
Mulher do padeiro: esposa infiel e devassa, tem amor genuíno apenas por seus animais de estimação.
Frade: bom sacerdote, serve, no enredo da peça, para salvaguardar a instituição Igreja das críticas do autor.
Severino do Aracajú: cangaceiro violento e ignorante.
Cangaceiro: ajudante de Severino, seu papel é apenas puxar o gatilho e executar outros personagens.
Demônio: ajudante do Diabo, parece disposto a condenar todos os personagens mortos no final do segundo ato.
O Encourado (o Diabo): segundo uma crença nordestina, o diabo utiliza roupas de couro e veste-se como um boiadeiro. Funciona como uma espécie de antagonista de João Grilo; como ele, também é astuto, mas acaba sendo derrotado pelo herói.
Manuel (Nosso Senhor Jesus Cristo): personagem que simboliza o bem, porém um bem sem misericórdia. É representado por um ator negro, a fim de que isso produza um efeito de estranhamento no público.
A Compadecida (Nossa Senhora): heroína da peça, funciona como uma advogada de João Grilo e de seus conterrâneos, derrotando com seus argumentos cheios de misericórdia os planos do Encourado de levar todos ao inferno.
Minissérie O Auto da Compadecida.
Em 1999 a Rede Globo exibiu a minissérie, O Auto da Compadecida (em que há um acréscimo do artigo “o” antes do nome original).
Na adaptação feita para o cinema em 2000, também chamada O Auto da Compadecida, aparecem alguns personagens como o Cabo Setenta, Rosinha e Vicentão. Eles não fazem parte da peça original. Esses são personagens de A Inconveniência de Ter Coragem, também de Ariano Suassuna.
O filme
O diretor Guel Arraes deu vida à versão cinematográfica de O Auto da Compadecida. O filme foi lançado 2000. No enredo, as aventuras dos nordestinos João Grilo (Matheus Natchergaele), um sertanejo pobre e mentiroso, e Chicó (Selton Mello), o mais covarde dos homens.
Eles venciam uma batalha para garantir o pão de cada dia. Para isso, muitas vezes enganavam os moradores do vilarejo de Taperoá, no sertão da Paraíba. A salvação da dupla acontece com a aparição da Nossa Senhora (Fernanda Montenegro).