Então veja neste post o diálogo entre os textos 'Navio Negreiro', de Castro Alves, e 'Todo camburão tem um pouco de Navio Negreiro', do grupo O Rappa. É pura Intextualidade:
Literatura Enem: A intertextualidade está presente em muitos textos, sendo um recurso para dar mais significado ou, melhor ainda, para que possamos melhor compreender os textos intertextualizados. Quando você estiver a ler um livro para se divertir ou para melhorar o seu preparo acadêmico, observe estas características, e perceba o que é a Intertextualidade.
O Enem simplesmente adora avaliar sua capacidade de perceber as diferentes conexões que um texto ou uma imagem pode trazer! O nome deste conteúdo é Intertextualidade.
O que é Intertextualidade
Então, você quer ter uma melhor compreensão textual, diante de citações de obras literárias, pinturas, publicidade e etc, na sua prova do Enem ou vestibular?-Veja na imagem um quadro que entrou para a história, feito por Rugendas (1830). A pintura mostra escravos no porão de um navio negreiro.
Entenda o recurso da intertextualidade
É um recurso tão importante que aparece quando você se depara com dois ou mais textos, por exemplo, em que é possível afirmar que nenhum texto origina-se do nada, que um sempre traz referência de algo já criado ou produzido, ou seja, alimenta-se, de maneira clara, de outros textos.
Antes de fazer os exercícios neste post veja agora um resumo simples e rápido sobre a Intertextualidade. É com a professora Camila Zuchetto, do canal Curso Enem Gratuito.
Muito bom o resumo. Agora, vamos colocar a mão na massa.
Para você começar a entender a intertextualidade, leia, com atenção, o fragmento do poema de Castro Alves, escrito em 1868, e, logo em seguida, ouça a musica e leia a letra da canção ‘Todo Camburão tem um pouco de Navio Negreiro’, do grupo O Rappa:
O NAVIO NEGREIRO – Castro Alves
Era um sonho dantesco… O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros… estalar do açoite…
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar…
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças… mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.
E ri-se a orquestra, irônica, estridente…
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais…
Se o velho arqueja… se no chão resvala,
Ouvem-se gritos… o chicote estala.
E voam mais e mais…
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece…
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!…”
E ri-se a orquestra irônica, estridente…
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam…
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!…
Para dar sequência, leia e ouça letra e canção da música Todo camburão tem um pouco de navio negreiro, de Marcelo Yuka:
Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro – O Rappa
Tudo começou quando a gente conversava
Naquela esquina ali
De frente àquela praça
Veio os homens
E nos pararam
Documento por favor
Então a gente apresentou
Mas eles não paravam
Qual é negão? Qual é negão?
O que que tá pegando?
Qual é negão? Qual é negão?
É mole de ver
Que em qualquer dura
O tempo passa mais lento pro negão
Quem segurava com força a chibata
Agora usa farda
Engatilha a macaca
Escolhe sempre o primeiro
Negro pra passar na revista
Pra passar na revista
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
É mole de ver
Que para o negro
Mesmo a aids possui hierarquia
Na áfrica a doença corre solta
E a imprensa mundial
Dispensa poucas linhas
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Comparado, comparado
Ao que faz com qualquer
Figurinha do cinema
Ou das colunas sociais
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Todo camburão tem um pouco de navio negreiro
Questões de Intertextualidade
Você leu os textos?
Percebeu a busca por referências que acontece para que o autor possa reafirmar, rebater e revolver suas ideias e objetivos dentro de cada?
O que quero dizer com isso é que ele, o autor, usa desse recurso para dar mais credibilidade ao que foi escrito, reforçando o que foi dito ou contrariando essa informação, diante de determinados pontos de vista. Então, você está compreendendo o que é a intertextualidade.
Dessa maneira, a intertextualidade, em sua extensão, alcança toda e qualquer produção textual, seja ela verbal ou não verbal e, também, não só em textos escritos, mas inclusive em textos falados.
Levando em conta a tela de Rugendas (1830), lá no começo do post, você acha que existe alguma intertextualidade entre os vistos nesse post? Sem dúvidas, não é mesmo?
O pintor alemão, que produziu várias de suas obras no Brasil, retrata, também, a crueldade do tráfico de escravos naquele século e, nessa obra, relata o momento da travessia dos negros para a América, todos amontoados, sejam eles crianças ou mulheres.
Levando em conta os textos estudados, a questão sobre a intertextualidade e a interpretação de texto, teste seus conhecimentos com os exercícios abaixo!
Exercícios sobre o que é e como encontrar a Intertextualidade:
1. Sobre o poema O navio negreiro, de Castro Alves e considerando a intertextualidade:
Pesquise a etimologia (origem da palavra) do adjetivo dantesco e dê seu significado.
2. (UFMT) Sobre a canção Todo camburão tem um pouco de navio negreiro, de Marcelo Yuka:
Em relação ao entendimento do texto, julgue os itens.
a) O texto aponta somente razões sociais para a discriminação do negro.
b) O sentido dos termos chibata e macaca corresponde, respectivamente, ao de feitor e soldado.
c) A expressão “é mole de ver”, nas duas ocorrências, é polissêmica – pode ser entendida como é fácil de ver e como é triste de ver.
d) Na expressão “em qualquer dura” (parte II), o rígido, usado como acréscimo o adjetivo lento.
Gabarito:
1. Dante, em Divina Comédia, descreve o Inferno, logo em sua primeira parte da obra. Assim, no poema de Castro Alves, o adjetivo dantesco, refere-se ao horroroso, assustador, espantoso.
2. B
O texto foi escrito sobre o que é a Intertextualidade foi escrito pela professora Analice, formada em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp. Atualmente é mestranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, professora de português na rede particular de ensino da Grande Florianópolis e colaboradora do Blog do Enem. Facebook: http://www.facebook.com/analice.andrade