Vem com a gente revisar a literatura contemporânea! Confira textos de Luís Fernando Veríssimo, Carlos Eduardo Novaes, João Ubaldo Ribeiro, Ana Cristina César, Ruben Fonseca, e poemas de Haroldo de Campos, Augusto de Campos, e Décio Pignatari. Cai no Enem e no vestibular.
Contemporaneidade: Se formos falar da literatura nos dias de hoje, não podemos dizer que, pelo menos nos últimos anos, tenha vivido um período literário específico, com características marcantes suficientes para considera-lo como tal.
Porém, atualmente, encontramos várias tendências que são tema no Enem e no Vestibular sobre a Literatura contemporânea.
O que encontramos atualmente na literatura brasileira são tendências diferentes coexistindo simultaneamente. Nenhuma delas se sobressai entre si, logo não podemos falar em um estilo que predomina.
Na poesia, cinco tendências literárias se destacam. São elas:
1 – Concretismo: poema de caráter mais visual do que verbal, deu fim ao verso em função do aproveitamento do espaço. Decompõe, monta e desmonta as palavras, permitindo múltiplas leituras em seus poemas. Seus principais representantes são: Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari.
2 – Poema-praxis: estilo trabalhado por poetas que divergem dos poetas concretistas. A poesia-práxis valoriza a palavra, tendo-a como enérgica, cheia de energia. Seus principais representantes: Mário Chamie, Yone G. Fonseca e Arnaldo Saraiva.
Forca na força
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a palavra na boca
na boca a palavra: força
a forca da palavra força
a palavra rolha fofa
a rolha fofa sem força
a palavra em folha solta
a força da palavra forca
a palavra de boca em boca
na boca a palavra forca
a palavra e sua força
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falar na era da forca
calar na era da força
na era de falar a forca
calar na era de calar a boca
na era de calar a boca
a era de falar à força
calar a força da boca com a forca
falar a boca da forca com a força
calar falar a palavra
não na ira de era ida
falar calar a palavra
nesta ira de era viva
calar a palavra na era ida da ira
falar a palavra na viva era da vida
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mas a forca da palavra força
: um cedilha em sua boca
(Mário Chamie. Objeto Selvagem)
3 – Poema-processo: baseada e trabalhada com os signos visuais. É feita a partir da proposta radicalizada do concretismo. Seus principais representantes são: Wlademir Dias Pino e Moacy Cirne.
4 – Poesia-social: feita com linguagem simples, busca tematizar os problemas da sociedade contemporânea. Seus principais representantes são: Ferreira Gullar, Afonso Ávila, Thiago de Mello e Alfonso Ramalho de Sant’Anna.
Arte de amar
Não faço poemas como quem chora,
nem faço versos como quem morre.
Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira
quando muito moço; achava que tinha
os dias contados pela tísica
e até se acanhava de namorar.
Faço poemas como quem faz amor.
É a mesma luta suave e desvairada
enquanto a rosa orvalhada
se vai entreabrindo devagar.
A gente nem se dá conta, até acha bom,
o imenso trabalho que amor dá para fazer.
Perdão, amor não se faz.
Quando muito, se desfaz.
Fazer amor é um dizer
(a metáfora é falaz)
de quem pretende vestir
com roupa austera a beleza
do corpo da primavera.
O verbo exato é foder.
A palavra fica nua
para todo mundo ver
o corpo amante cantando
a glória do seu poder.
(Thiago de Mello)
5 – Poesia-marginal: produzida artesanalmente, chega ao leitor através do sistemas de “mão em mão”, está presente em círculos restritos, na maioria das vezes sendo o próprio autor a pessoa que o distribui. Sendo muito diversificada, abre espaço a diversos temas e formas.
Soneto (Ana Cristina César)
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
Veja a Prosa na Literatura Contemporânea:
Na prosa, essencialmente se produz Prosa Regionalista; Prosa Urbana; Prosa Política; Realismo Fantástico; Prosa Intimista; Prosa Memorialista; Romance-Reportagem; e, Crônicas e Contos. Veja:
Prosa regionalista: seus principais autores são: Mário Palmério, Bernardo Élis e Ariano Suassuna.
A chuva caía meticulosamente, sem pressa de cessar. A palha do rancho porejava água, fedia a podre, derrubando dentro da casa uma infinidade de bichos que a sua podridão gerava. Ratos, sapos, baratas, grilos, aranhas, —
o diabo refugiava-se ali dentro, fugindo à inundação, que aos poucos ia galgando a perambeira do morrote.
Quelemente saiu ao terreiro e olhou a noite. Não havia céu, não havia horizonte — era aquela coisa confusa, translúcida e pegajosa. Clareava as trevas o branco leitoso das águas que cercavam o rancho. Ali pras bandas da vargem é que ainda se divisava o vulto negro e mal recortado do mato. Nem uma estrela. Nem um pirilampo. Nem um relâmpago. A noite era feito um grande cadáver, de olhos abertos e embaciados. Os gritos friorentos das marrecas povoavam de terror o ronco medonho da cheia.
(Trecho de “Nhola dos Anjos e a cheia do Corumbá” – Conto de Bernardo Élis)
Prosa política: produzida a fim de ser uma ferramenta de denúncia política e social. Seus principais destaques são: Ignácio de Loyola Brandão, Antonio Calado, Ivan Ângelo, Roberto Drummond, Márcio Souza, João Ubaldo Ribeiro.
Realismo fantástico: feito com elemento antirracionais, que são metáforas dos desequilíbrios sociais. Principais autores são: Murilo Rubião, José J. Veiga, Moacyr Scliar.
Prosa urbana: trata dos centros urbanos e seus problemas. Os principais autores são: Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Luis Vilela e João Antônio.
A primeira semana foi difícil. Não é simples parar de repente de trabalhar. Eu me senti perdido, sem saber o que fazer. Mas aos poucos fui me acostumando. Meu apetite aumentou. Passei a dormir melhor e a fumar menos.
Via televisão, lia, dormia depois do almoço e andava o dobro do que andava antes, sentindo-me ótimo. Eu estava me tornando um homem tranqüilo e pensando seriamente em mudar de vida, parar de trabalhar tanto.
Um dia saí para o meu passeio habitual quando ele, o pedinte, surgiu inesperadamente. Inferno, como foi que ele descobriu o meu endereço? “Doutor, não me abandone!” Sua voz era de mágoa e ressentimento.
“Só tenho o senhor no mundo, não faça isso de novo comigo, estou precisando de um dinheiro, esta é a última vez, eu juro!” — e ele encostou o seu corpo bem junto ao meu, enquanto caminhávamos, e eu podia sentir o seu hálito azedo e podre de faminto. Ele era mais alto do que eu, forte e ameaçador.
(Trecho de “O outro”, Rubem Fonseca)
Prosa intimista: análise psicológica do homem. Autores principais: Lygia Fagundes Telles, Autran Dourado, Osman Lins, Adélia Prado.
Prosa memorialista ou autobiográfica: principais destaques: Pedro Nava e Érico Veríssimo.
Romance reportagem: produções bases em fatos verídicos. Seus principais destaques são: José Louzeiro e Aguinaldo Silva.
Crônicas e contos: são registros literários do cotidiano. De modo geral, são publicadas em jornais e revistas, sendo um dos gêneros mais usadas nos dias de hoje. Principais destaques: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rubem Braga, Lourenço Diaféria, Carlos Eduardo Novaes e Luis Fernando Veríssimo.