Conquistar um diploma de nível superior é um sonho para a maioria dos jovens. Mas, num mercado em crise, a porta de entrada mais tranquila pode ser um Curso Técnico. Não dá para vacilar. E, depois, você pode continuar estudando e também 'tirar o seu diploma'. Veja!
Ficar de olho e ligar o radar para quem precisa conseguir logo um emprego para se garantir na vida é fundamental. Com o país em crise o desemprego está solto por aí. Começar a vida com um bom Curso Técnico é muito mais vantagem do que fazer um Curso Superior que não abre portas no mercado. Confira este artigo para pensar bem o seu projeto!
O professor Jonas Bertucci, que trabalha na Confederação Nacional da Indústria elaborando estudos e estatísticas sobre o mercado de trabalho, desenvolveu para o Blog do Enem uma análise que pode ajudar você na escolha do curso superior ou de um curso técnico.
O que vale mais a pena? Ter o status de um ‘diploma universitário’ e não ter emprego, ou ter o diploma de um Curso Técnico e já começar a ganhar a vida? Veja:
- Entre 2003 e 2013, o Brasil passou por um período de elevado crescimento econômico no qual vivenciamos:
- Uma redução do desemprego;
- O aumento da formalidade (com o crescimento do emprego com carteira assinada);
- A redução de desigualdades, com uma elevação do rendimento médio real dos trabalhadores e aumento do salário mínimo;
Esse modelo, que vigorou por uma década, tinha como base o aumento do consumo e do crédito, dando sinais de esgotamento a partir de 2012, quando a economia começou a desacelerar.
A partir do final de 2014, o país entrou numa fase irreversível de retração da atividade produtiva, afetando fortemente o mercado de trabalho. Apesar da redução das taxas de crescimento nesse ano, os efeitos no emprego só foram sentidos no ano seguinte, 2015, quando o crescimento, que já era baixo, passou a ser negativo.
Esse período vem sendo marcado por:
- Inflação persistente, apesar da queda do consumo e do crédito;
- Aumento do desemprego, com crescimento da informalidade e aumento do emprego por conta própria;
- Instabilidade política.
Os jovens perdem mais durante a crise
É importante destacar que a crise afeta de maneira diferente cada grupo social. Para os jovens, o aumento do desemprego, que já costuma ser maior que a média dos demais trabalhadores, torna sua entrada no mercado ainda mais difícil.
A taxa de desocupação para os jovens de 18 a 24 anos chegou a 25,7% no final de 2016, mais do que o dobro da média nacional, de 11,8%. Por isso, o jovem que tiver uma boa estratégia de médio prazo pode melhorar muito suas chances de conseguir uma vaga mais interessante no futuro.
Nas últimas décadas, a escolaridade da população brasileira aumentou bastante. Cresceram as taxas de matrículas no ensino básico e o número de vagas nas universidades. Com a economia indo de vento em popa e a renda das famílias aumentando, muitos jovens optaram por se dedicar exclusivamente aos estudos.
Contudo, agora esse movimento mudou de sentido. Grande parte dos jovens que não precisava trabalhar no período de crescimento (portanto, não eram considerados desempregados), está voltando para o mercado, seja porque concluiu seus estudos, ou para complementar a renda da família – este é o caso daquelas famílias em que um dos componentes perdeu o emprego.
Diploma não garante mais o acesso ao emprego
No entanto, muitos dos que conquistaram um diploma estão enfrentando dificuldades para exercer sua profissão. Isso ocorre não apenas por conta do desaquecimento da economia, mas também porque há um desalinhamento entre a oferta de formação e as oportunidades no mercado. Por exemplo, um levantamento de um professor da USP indica que 30% dos concluintes de cursos de nível superior estão na área de administração, muito embora menos de 5% dos trabalhadores com graduação estejam ocupados na função de administrador de empresas.
Ou seja, não existem vagas disponíveis na mesma proporção das áreas em que os jovens têm se formado. Por outro lado, muitos trabalhadores com nível superior estão ocupados como assistentes ou auxiliares administrativos, áreas que não exigem faculdade.
No Brasil, historicamente, há uma supervalorização do ensino superior, considerado como um meio de ascensão social e de status. Isso se dá, em parte, porque os retornos de um diploma de graduação ainda são muito elevados por aqui.
O aumento do número de trabalhadores que fez faculdade nos últimos anos contribuiu para diminuir as desigualdades salariais, contudo a cultura bacharelesca ainda é intensa e faz com que muitos jovens coloquem a universidade como objetivo de vida, desconsiderando alternativas como o ensino técnico.
O resultado é um exército de jovens formados em instituições superiores de menor qualidade e com pouca ou nenhuma experiência que não conseguem vagas nos processos de seleção.
Talvez agora seja o caso, para alguns, de reavaliar a estratégia. Afinal, uma boa formação técnica pode valer mais que uma graduação genérica em uma instituição de ensino menos prestigiada. O curso técnico pode ser uma opção interessante, pois amplia o leque de possibilidades do jovem.Aqueles que tiverem mais pressa para ingressar no mercado de trabalho já saem do ensino médio com uma vantagem em relação a outros candidatos, pois essa modalidade de ensino oferece maior conhecimento prático e é voltada para o mercado.
Aquele que opta por essa formação pode ter uma renda razoável já no início da carreira e, futuramente, ingressar em um curso superior, caso deseje se aprofundar na mesma área. Levantamentos do SENAI mostram que há carreiras promissoras de nível técnico, algumas que inclusive oferecem salários acima da média de algumas carreiras de nível superior.
Por outro lado, o jovem que não conseguir emprego imediatamente ou que não desejar ingressar no mercado, terá uma formação sólida, com maiores chances de ter um bom resultado no ENEM e em outras seleções em universidades públicas ou privadas. Não é novidade que estudantes de escolas técnicas costumam alcançar bons resultados nas seleções para a universidade.
Dados do Mapa do Trabalho Industrial indicam ainda que profissionais com formação transversal ganham vantagem por poder trabalhar em vários setores, além da indústria. No caso da necessidade de uma mudança de área, a adaptação também é mais fácil, sendo possível cursar uma especialização ao invés de procurar outra faculdade. Isso sem esquecer que, diante do avanço das tecnologias de inteligência artificial e automação, algumas ocupações, antes disputadas por profissionais especializados, estão fadadas a desaparecer.
Portanto, o investimento em educação é e continuará sendo crucial para o futuro do jovem, mas para que o investimento de tempo e recurso dê frutos, é preciso buscar informação sobre as possibilidades oferecidas no mercado antes de decidir onde se lançar.
Especialmente se a opção for pelo nível superior, o estudante deve procurar conhecer as opções de carreira que o curso oferece, sem deixar de lado a identificação com a área e sua satisfação pessoal.
Este post sobre as oportunidades no mercado de trabalho durante uma economia em crise foi escrito para o Blog do Enem pelo economista Jonas Bertucci, doutor em Sociologia pela Universidade de Brasília, e analista da Confederação Nacional da Indústria.