Saiba tudo sobre a aposentadoria de Cacique Raoni e como a transição de liderança indígena se conecta com temas importantes do Enem.

Cacique Raoni, líder histórico do povo Kayapó (Mebêngôkre) e referência mundial na defesa da Amazônia, anunciou a transição de sua liderança. Aos mais de 90 anos, Raoni permanece ativo na causa, mas começa a estruturar sua sucessão para garantir a continuidade da luta por direitos indígenas e proteção ambiental.
Neste texto, você vai entender o que motivou essa decisão, como o processo está sendo conduzido, quem são os principais nomes envolvidos na sucessão e quais os impactos desse novo momento para o futuro da causa indígena.
Quem é Cacique Raoni?
Cacique Raoni Metuktire nasceu por volta de 1932, na aldeia Kayapó de Luciara, no atual estado do Mato Grosso. Cresceu em meio às tradições do povo Mebêngôkre (Kayapó), desenvolvendo desde cedo uma relação profunda com o território e os modos de vida de sua comunidade.
O primeiro contato contínuo com não indígenas ocorreu em 1954, quando conheceu os sertanistas irmãos Villas-Bôas. A partir dessa convivência, aprendeu a falar português e iniciou sua atuação como ponte entre os povos indígenas e a sociedade envolvente.
Seu reconhecimento nacional e internacional se consolidou a partir dos anos 1980, especialmente após sua participação em campanhas ambientais com figuras públicas, como o músico Sting. Raoni passou a atuar internacionalmente na defesa da Amazônia e dos direitos indígenas, tornando-se uma referência global no tema.
Entre seus principais marcos estão:
- Participação na Assembleia Constituinte de 1988, que garantiu direitos importantes aos povos indígenas na Constituição Federal;
- Liderança em campanhas contra grandes obras de infraestrutura, como a usina de Belo Monte e outras barragens na Amazônia;
- Atuação contínua contra o desmatamento, o garimpo ilegal e outras ameaças ambientais;
- Representação política em eventos nacionais e internacionais, com encontros com chefes de Estado, autoridades religiosas e organismos multilaterais.
Raoni também se destacou por sua crítica a políticas públicas que impactam negativamente os povos indígenas, mantendo uma postura ativa mesmo em idade avançada. Em 2023, por exemplo, entregou simbolicamente a faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e cobrou, em cerimônia pública, o cumprimento de promessas relacionadas à demarcação de terras e proteção ambiental.
Como será a sucessão

A sucessão de Cacique Raoni não está sendo pensada como a transferência de liderança para uma única pessoa. Em vez disso, o processo envolve a formação de um grupo de lideranças indígenas que dará continuidade ao trabalho desenvolvido por ele ao longo das últimas décadas.
Essa escolha coletiva está alinhada às práticas tradicionais do povo Kayapó, em que as lideranças são reconhecidas gradualmente, com base na experiência, no respeito da comunidade e na capacidade de articulação política. A proposta é distribuir responsabilidades e fortalecer a atuação do movimento de forma mais ampla e estruturada.
Entre os nomes mais citados no processo estão:
- Megaron Txucarramãe: sobrinho de Raoni, com longa trajetória como liderança indígena e ampla experiência em articulação política nacional e internacional;
- Yabuti e Tay: considerados netos de consideração de Raoni, foram mencionados pelo próprio cacique como sucessores espirituais, escolhidos com base em visões tradicionais;
- Beptuk Metuktire: neto biológico de Raoni, está em processo de formação e já atua na preservação da memória do avô por meio de publicações e registros históricos;
- Outras lideranças: como Bedai, Pekan, Puyu e Belmoron, também fazem parte do grupo mais amplo de sucessão.
Além deles, familiares como Kokonã Metuktire (filha) e Mayalu Kokometi Waura Txucarramãe (neta) exercem funções de liderança no Instituto Raoni, reforçando a dimensão institucional da transição.
Essa estrutura coletiva visa garantir que a continuidade da luta não dependa exclusivamente de um único nome, mas esteja ancorada em uma rede sólida de lideranças preparadas para atuar em diferentes frentes.
O papel crescente das mulheres na liderança Kayapó
Nas últimas décadas, as mulheres indígenas Kayapó vêm assumindo posições de maior protagonismo dentro da luta pela preservação dos direitos indígenas e da floresta.
Um exemplo significativo é O-é Kaiapó Paiakan, assistente social e cacica da aldeia Krenhyedjá, que, em 2021, foi escolhida como líder de todo o povo Kayapó-Mebêngôkre. Ela quebrou uma tradição histórica de liderança masculina, com o apoio de Raoni e outras lideranças, sinalizando mudanças importantes na dinâmica de poder dentro da comunidade.
Além dela, figuras como Kokonã Metuktire (filha de Raoni) e Mayalu Kokometi Waura Txucarramãe (neta) ocupam cargos de liderança no Instituto Raoni, mostrando o envolvimento formal das mulheres na organização e continuidade do trabalho do cacique.
Apesar desses avanços, ainda existe resistência em alguns setores à presença feminina em cargos tradicionais de liderança, especialmente aqueles associados ao legado direto de Raoni. Historicamente, a sucessão preferia líderes homens, com a responsabilidade muitas vezes focada nos netos mais velhos.
O futuro da luta indígena e o legado de Raoni
Cacique Raoni expressa preocupação com a continuidade da luta e a preservação das tradições entre as gerações mais jovens. Ele observa que os jovens estão cada vez mais influenciados pela cultura não indígena e teme que isso possa enfraquecer o vínculo com a identidade e os valores do seu povo.
Para ajudar a preservar esse legado, Raoni lançou o livro “Memórias do Cacique”, resultado de entrevistas conduzidas por seus netos. A obra reúne histórias, saberes e reflexões que ajudam a transmitir a cultura Kayapó e sua experiência de vida para as próximas gerações.
Além disso, Raoni mantém o foco na defesa dos direitos territoriais, lutando contra ameaças como o desmatamento, o garimpo ilegal e grandes projetos de infraestrutura que impactam a Amazônia. A recente alta na população indígena, conforme o censo de 2023, aumenta a necessidade de ampliação e proteção das terras indígenas.
O Instituto Raoni tem papel fundamental na continuidade dessa atuação. A organização trabalha na proteção dos territórios, apoio à autonomia cultural, promoção de atividades econômicas sustentáveis e parcerias com órgãos públicos para garantir direitos essenciais, como saúde e educação.
Essa institucionalização representa um passo importante para que a luta indígena não dependa exclusivamente de lideranças individuais, mas esteja apoiada em uma estrutura organizada e preparada para o futuro.
Por que entender a sucessão do Cacique Raoni é importante para quem faz o Enem
Conhecer a história e o contexto da liderança do Cacique Raoni ajuda a entender questões centrais sobre a luta dos povos indígenas pela terra, seus desafios atuais e o papel que eles exercem na proteção da Amazônia.
Além disso, a transição de liderança entre as gerações e o fortalecimento do protagonismo feminino são exemplos concretos de como as comunidades indígenas se organizam e se adaptam às mudanças, refletindo temas que aparecem nas provas de Ciências Humanas, como cidadania, direitos humanos e diversidade cultural.
Ter esse repertório enriquece sua capacidade de interpretar textos, fazer conexões e argumentar em redações, especialmente quando os temas envolvem meio ambiente, direitos indígenas ou políticas públicas.