Entenda por que essa edição teve um tema diferente para Belém, Ananindeua e Marituba e descubra tudo sobre a proposta de redação.
No domingo, 30 de novembro de 2025, enquanto a maior parte do Brasil já havia concluído o Enem há semanas, estudantes da Grande Belém (Belém, Ananindeua e Marituba) se depararam com um tema de redação distinto e profundamente relevante: “A valorização dos trabalhadores rurais no Brasil”. Diferentemente do tema nacional (“Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”), a proposta da reaplicação trouxe à tona uma discussão sobre dignidade, reconhecimento e os desafios enfrentados por quem alimenta o país.
A reaplicação ocorreu devido à realização da COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) em Belém, entre 10 e 21 de novembro de 2025, evento que reuniu mais de 40 mil visitantes e líderes de quase 200 países para discutir a crise climática. Por questões logísticas e de segurança, os 95.784 candidatos dessas três cidades paraenses tiveram suas provas remarcadas.
Contextualizando o tema: quem são os trabalhadores rurais?
Os trabalhadores rurais compõem uma categoria ampla e diversa que inclui agricultores familiares, assalariados da agropecuária, trabalhadores em produção florestal, pesca, aquicultura e pecuária. Segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o Brasil possui atualmente mais de 28,6 milhões de trabalhadores rurais, sendo que aproximadamente 77% dos estabelecimentos agrícolas são classificados como agricultura familiar.
O panorama atual do trabalho no campo
- O rendimento médio mensal dos trabalhadores da agropecuária passou de R$ 2.022 para R$ 2.133 no primeiro trimestre de 2025, representando um aumento de 5,5% em relação ao mesmo período de 2024.
- O salário médio varia significativamente por região: o Centro-Oeste apresenta o maior valor (R$ 3.492), enquanto o Nordeste registra os menores índices.
- A agricultura familiar gera mais de 10,1 milhões de postos de trabalho e é responsável pela base econômica de 90% dos municípios brasileiros com até 20 mil habitantes.
A importância da agricultura familiar para a segurança alimentar
Um dos aspectos centrais que o tema convida a discutir é o papel fundamental dos trabalhadores rurais na segurança alimentar do país. A agricultura familiar, apesar de ocupar apenas 23% das terras agricultáveis, é responsável por uma parcela significativa da produção de alimentos básicos consumidos pelos brasileiros, incluindo:
- Verduras, frutas e hortaliças
- Feijão e mandioca
- Leite (57,6% do leite de vaca produzido no país)
- Pecuária de pequeno porte
- Produtos regionais e biodiversidade alimentar
Embora exista debate acadêmico sobre os números exatos (com estudos questionando a famosa afirmação de que “a agricultura familiar produz 70% dos alimentos consumidos no Brasil”), é inegável que esse setor desempenha papel crucial no abastecimento interno, na contenção da inflação de alimentos e na preservação da diversidade alimentar.
O que poderia ser discutido na Redação
Informalidade e falta de direitos trabalhistas
Um dos maiores problemas enfrentados pelos trabalhadores rurais é a informalidade. Segundo estudos do DIEESE de 2014, aproximadamente 59,4% dos assalariados rurais não possuíam carteira assinada, índice que chegava a 77,1% nas regiões Norte e Nordeste, ultrapassando 90% em estados como Acre e Sergipe. Mesmo diminuindo gradualmente, a informalidade no campo permanece entre as mais altas do mercado de trabalho brasileiro.
Desigualdade salarial e regional
A remuneração dos trabalhadores rurais apresenta disparidades significativas:
- Trabalhadores do Centro-Oeste recebem salários médios muito superiores aos do Nordeste
- Há diferença salarial em relação aos trabalhadores urbanos
- A mecanização reduz postos de trabalho sem oferecer alternativas de qualificação
Condições degradantes de trabalho
Entre 1995 e 2018, mais de 50 mil trabalhadores foram resgatados de condições análogas à escravidão no Brasil, segundo o Observatório Digital do Trabalho Escravo (parceria entre MPT e OIT). O Pará lidera o ranking com 10.043 resgates, seguido por Mato Grosso e Minas Gerais. Até 2023, esse número já ultrapassava 63,5 mil pessoas resgatadas.
Invisibilidade social e histórica
Apenas em 1988, com a Constituição Federal, os trabalhadores rurais conquistaram equiparação de direitos com os trabalhadores urbanos. Antes disso, enfrentavam prazos prescricionais diferenciados e tinham direitos trabalhistas limitados. A Lei 11.326/2006, que reconheceu formalmente a agricultura familiar como profissão, foi um marco importante, mas a luta por reconhecimento continua.
Avanços e conquistas recentes
Nem tudo são desafios. O tema também permite destacar progressos:
- Aumento da escolaridade entre mulheres rurais: o percentual com ensino superior triplicou entre 2012 e 2024 (de 2% para 6%)
- Queda no desemprego feminino no campo, atingindo o menor nível desde 2015
- Programas como PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) que valorizam e fortalecem o setor
- Crescimento da renda no primeiro trimestre de 2025
Repertórios socioculturais e citações possíveis
Referências históricas e legais
Estatuto do Trabalhador Rural (1963): Primeira legislação específica para trabalhadores rurais no Brasil, posteriormente substituída pela Lei 5.889/1973.
Constituição Federal de 1988: Marco da equiparação de direitos entre trabalhadores rurais e urbanos, garantindo direitos previdenciários, trabalhistas e sociais.
Lei 11.326/2006: Define e reconhece a agricultura familiar como categoria profissional, estabelecendo critérios como posse de até quatro módulos fiscais, uso predominante de mão de obra familiar e gestão familiar da produção.
Autores e pensadores
Celso Furtado: Economista brasileiro que discutiu o desenvolvimento rural e as desigualdades regionais em obras como “Formação Econômica do Brasil”.
Darcy Ribeiro: Antropólogo que analisou a formação do povo brasileiro, incluindo as populações rurais e sua contribuição cultural.
Josué de Castro: Médico e geógrafo autor de “Geografia da Fome”, obra fundamental para entender a relação entre alimentação, pobreza rural e desenvolvimento.
Dados e instituições
CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares): Representa mais de 15 milhões de trabalhadores rurais por meio de 3.800 sindicatos e 27 federações.
EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária): Instituição de pesquisa que desenvolve tecnologias para a agricultura familiar.
IBGE – Censo Agropecuário 2017: Fonte de dados sobre a estrutura agrária brasileira (observação: dados defasados, mas ainda utilizados como referência).
Filmes e documentários
“Cabra Marcado para Morrer” (1984) – Eduardo Coutinho
Documentário fundamental sobre João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas na Paraíba assassinado em 1962. A produção começou em 1964 mas foi interrompida pela ditadura militar, sendo retomada 17 anos depois quando Coutinho reencontra Elisabeth Teixeira, viúva de João Pedro. Obra essencial sobre a luta pela terra e a violência no campo.
“Trilogia da Terra” – Silvio Tendler
- “O Veneno Está na Mesa I e II” (2011/2014): Documentários que expõem o uso de agrotóxicos no Brasil e seus impactos sobre trabalhadores rurais e consumidores
- “Agricultura Tamanho Família” (2014): Produzido com a CONTAG, mostra a importância da agricultura familiar para segurança alimentar, trazendo depoimentos de agricultores de diversos estados sobre suas realidades, dificuldades e conquistas
“Antes do Prato” (2020) – Carol Quintanilha
Documentário do Greenpeace Brasil sobre agricultura familiar de base agroecológica. Percorre o país mostrando iniciativas como a produção de arroz orgânico do MST no Rio Grande do Sul e projetos de agricultura urbana em São Paulo.
Literatura
“Vidas Secas” (1938) – Graciliano Ramos
Romance sobre a família de Fabiano, retirantes nordestinos que enfrentam a seca, a miséria e a exploração. Obra fundamental sobre a condição dos trabalhadores rurais no sertão brasileiro.
“O Quinze” (1930) – Rachel de Queiroz
Primeiro romance da autora, narra o drama dos retirantes durante a grande seca de 1915 no Ceará, evidenciando as duras condições de vida no campo.
“Morte e Vida Severina” (1955-1956) – João Cabral de Melo Neto
Auto de Natal pernambucano que acompanha a jornada de Severino, trabalhador rural que migra do sertão para o litoral fugindo da miséria, encontrando morte e exploração pelo caminho.
“Ponciá Vicêncio” (2003) – Conceição Evaristo
Romance sobre uma mulher negra nascida em zona rural descendente de escravizados, que migra para a cidade buscando melhores condições de vida.
Novelas brasileiras
“O Rei do Gado” (1996) – Benedito Ruy Barbosa
Novela clássica que aborda poder, conflitos familiares e disputas por terra no contexto do agronegócio brasileiro, mostrando tensões entre fazendeiros e trabalhadores rurais.
Notícias e acontecimentos de 2025 relacionados ao tema
COP-30 em Belém (Novembro de 2025)
A realização da Conferência do Clima em Belém, que motivou a reaplicação do ENEM, está diretamente relacionada ao tema. O evento destacou:
- A importância da Amazônia e dos povos tradicionais na preservação ambiental
- O papel da agricultura familiar na sustentabilidade
- Dias temáticos sobre agricultura, sistemas alimentares e agricultura familiar (19-20 de novembro)
- A conexão entre produção agrícola sustentável e combate às mudanças climáticas
Anuário estatístico da agricultura familiar (Julho de 2025)
Lançado pela CONTAG e DIEESE, revelou:
- Avanço de 5,5% no rendimento médio mensal dos trabalhadores
- Menor taxa de desemprego feminino no campo desde 2015
- Aumento significativo na escolaridade das mulheres rurais
- Dados sobre a realidade econômica e social do campo brasileiro
Aumento da informalidade nacional
Em 2025, a taxa de informalidade no Brasil atingiu 38,9%, com cerca de 40,3 milhões de trabalhadores informais. Nas regiões rurais, especialmente Norte e Nordeste, esse percentual é ainda maior (acima de 50%), evidenciando a persistência do problema.
Discussões sobre reforma agrária e políticas públicas
O debate sobre fortalecimento da agricultura familiar ganhou destaque com:
- Investimentos do Plano Safra da Agricultura Familiar (R$ 76 bilhões via PRONAF)
- Expansão do orçamento do PAA (de R$ 2,6 milhões para R$ 716 milhões em 2023)
- Políticas de regularização fundiária e extensão rural
Relações Interdisciplinares
Geografia
- Distribuição regional da agricultura familiar
- Êxodo rural e urbanização
- Questão agrária e concentração fundiária
- Biomas e agricultura sustentável
História
- Lutas camponesas (Ligas Camponesas, MST)
- Legislação trabalhista rural
- Escravidão e trabalho no campo
- Reforma agrária no Brasil
Sociologia
- Movimentos sociais rurais
- Desigualdade social no campo
- Identidade e cultura rural
- Relações de trabalho e poder
Filosofia e Ética
- Dignidade humana e trabalho
- Justiça social e distributiva
- Ética ambiental
- Direitos humanos
Por que esse tema em Belém?
A escolha do tema para a reaplicação da Grande Belém não foi aleatória. Conecta-se diretamente ao contexto da COP-30, que trouxe para a Amazônia discussões sobre:
- Sustentabilidade: A agricultura familiar pratica métodos mais sustentáveis que o agronegócio em larga escala
- Povos tradicionais: Ribeirinhos, indígenas e quilombolas são trabalhadores rurais que preservam a floresta
- Segurança alimentar global: O papel do Brasil como produtor de alimentos em um contexto de crise climática
- Justiça climática: As populações rurais, especialmente na Amazônia, são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, apesar de contribuírem menos para elas
A proposta convidava os candidatos paraenses a refletirem sobre uma realidade próxima: muitos têm familiares que trabalham no campo, conhecem comunidades ribeirinhas ou vivenciam diretamente os desafios da agricultura regional.
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