Mulheres nas Olimpíadas: evolução histórica da presença feminina

Pela primeira vez na história, o número de homens e mulheres nas Olimpíadas será igual. Conheça a trajetória da presença e das conquistas femininas nos jogos.

Os Jogos Olímpicos sempre foram um símbolo de força, determinação e conquistas. Mas, você conhece a emocionante trajetória e a evolução da presença das mulheres nas Olimpíadas?

Tudo começou em 1900, coincidência ou não, nos Jogos Olímpicos de Paris. Foi lá que as primeiras mulheres participaram. Eram apenas 22, em contraste com 975 homens, representando 2,2% do total de atletas. Desde então, a participação feminina cresceu: 46.789 mulheres já competiram.

Paris, mais uma vez, será o palco de um marco histórico. Dos 10.500 atletas esperados para a edição que começa no dia 26 de julho, metade serão mulheres, atingindo a tão sonhada paridade. E a delegação brasileira, também pela primeira vez, contará com mais mulheres do que homens (153 mulheres e 124 homens).

Hoje, vamos celebrar os marcos dessa jornada incrível, relembrando as conquistas de atletas que quebraram recordes, conquistaram medalhas e inspiraram gerações de mulheres a perseguirem seus sonhos no esporte.

As primeiras participações de mulheres nas Olimpíadas

A desigualdade de gênero, marcada pelas diferenças de poder e oportunidades entre homens e mulheres, é uma realidade presente desde os primórdios da nossa sociedade. O patriarcado, sistema em que homens tradicionalmente detêm maior poder de decisão e mais oportunidades do que as mulheres, também se reflete no esporte.

E a ideia de que esporte não é para mulheres é bastante remota. Desde a Grécia Antiga, considerada o berço dos esportes e das competições, acreditava-se que elas não deveriam praticar esportes, porque isso as tornaria masculinizadas. Por séculos, essa mentalidade persistiu, restringindo a participação feminina nas atividades esportivas.

A entrada das mulheres no esporte foi lenta e exigiu a coragem e a determinação de muitas pioneiras. Até o final do século XIX, poucas se aventuraram nesse mundo.

Foi somente em 1900, durante os Jogos Olímpicos de Paris, que as primeiras mulheres fizeram história ao competir oficialmente. Naquela edição, 22 mulheres puderam participar de apenas duas modalidades: tênis e golfe. Apesar de somarem apenas 2,2% do total de atletas, sua participação foi um marco importante.

Charlotte Cooper, uma tenista britânica, foi a primeira mulher a ganhar uma medalha de ouro olímpica. A vitória abriu portas para outras atletas, ao mesmo tempo em que desafiou as normas sociais da época.

Embora o número de mulheres participantes aumentasse lentamente, as restrições continuavam. Em 1908, nos Jogos de Londres, 37 mulheres competiram, ainda representando uma pequena fração do total de atletas. As modalidades femininas também eram limitadas, refletindo a resistência da sociedade à ideia de mulheres competindo em esportes considerados “masculinos”.

Foi apenas em 1928, nos Jogos de Amsterdã, que elas puderam competir em provas de atletismo, ginástica e esgrima, marcando outro avanço significativo. Mesmo assim, a quantidade de provas femininas era bem menor comparada às masculinas, e a maratona feminina só foi incluída no programa olímpico em 1984, nos Jogos de Los Angeles.

Essas primeiras participações femininas nos Jogos Olímpicos abriram caminho para a necessidade da igualdade de gênero no esporte. Elas demonstraram ter tanto talento e determinação quanto os homens, inspirando futuras gerações de atletas a lutarem por seu lugar nas competições de alto nível.

A trajetória das mulheres nas Olimpíadas é um testemunho de perseverança e uma celebração das conquistas que continuam a inspirar. Confira, na tabela, o percentual de atletas por gênero nos Jogos Olímpicos:

Edição dos JogosMulheresHomens
Paris 19244,3%95,7%
Los Angeles 198423%77%
Atlanta 199634%66%
Londres 201244%56%
Tóquio 202048%52%
Paris 202450%50%
Fonte: COI

Linha do tempo: conquistas e pioneirismo

Preparamos uma linha do tempo para acompanhar com facilidade a evolução histórica da presença das mulheres nas Olimpíadas:

1900: primeira participação feminina

Em 1900, as mulheres participaram pela primeira vez dos Jogos Olímpicos em Paris. Naquela edição, 22 atletas foram admitidas, representando 2,2% do total. A condessa Hélène de Pourtalès, da Suíça, fez história ao participar e vencer a competição de vela com a tripulação do barco Lerina, conquistando uma medalha de ouro.

A britânica Charlotte Cooper fez história na mesma edição ao se tornar a primeira mulher a ganhar duas medalhas no tênis: na competição simples e nas duplas mistas.

1904 e 1908: novas modalidades e admissão oficial

Entre 1904 e 1908, novas modalidades, como arco e flecha e patinação artística, foram introduzidas para as mulheres. Em 1908, as mulheres foram oficialmente admitidas nas competições olímpicas, apesar de ainda enfrentarem restrições.

1917: fundação da Federação das Sociedades Esportivas Femininas da França

Em 1917, Alice Milliat, juntamente com outras atletas, fundou a Federação das Sociedades Esportivas Femininas da França. A organização tinha como objetivo lutar pela maior inclusão das mulheres nas Olimpíadas, especialmente em modalidades de atletismo, que eram então exclusivas aos homens.

1921: primeiros Jogos Olímpicos Femininos

Os Jogos Olímpicos Femininos foram organizados por Alice Milliat e pela Federação Internacional de Esportes Femininos (FSFI) em 1921. O evento teve quatro edições entre 1922 e 1934. Na primeira edição, 77 atletas participaram e cerca de 20 mil espectadores assistiram às competições.

1928: inclusão na corrida e no salto em altura

As mulheres começaram a competir em modalidades de corrida de velocidade (100 metros, 400 metros, 800 metros) e salto em altura nos Jogos Olímpicos de 1928. Embora enfrentassem obstáculos, essas competições marcaram um avanço significativo para as atletas femininas.

1981: mulheres no Comitê Internacional Olímpico

Em 1981, a ex-atleta venezuelana Flor Isava Fonseca e a ex-velocista finlandesa Pirjo Haeggman se tornaram as primeiras mulheres a integrar o Comitê Internacional Olímpico (COI).

1984: introdução do nado sincronizado e do ciclismo

Nos Jogos Olímpicos de Verão em Los Angeles, em 1984, o nado sincronizado foi introduzido como a primeira modalidade exclusivamente feminina. As mulheres também começaram a competir na categoria individual de ciclismo.

1991: regra de inclusão do COI

O COI estabeleceu em 1991 que qualquer novo esporte incluído nos Jogos Olímpicos deveria ter eventos para mulheres. No entanto, essa regra não se aplicava retroativamente às modalidades já existentes.

1995: Comissão da Mulher e do Esporte do COI

Em 1995, o COI criou a Comissão da Mulher e do Esporte, com o objetivo de promover a inclusão de mulheres em todos os comitês executivos e órgãos de governança do movimento olímpico, além de incentivá-las a participar mais ativamente nos esportes.

2012: participação em todas as modalidades

Nas Olimpíadas de Londres em 2012, as mulheres competiram em todas as modalidades pela primeira vez. Todos os comitês nacionais enviaram ao menos uma mulher atleta em suas delegações.

2021: primeira mulher trans nos Jogos Olímpicos

Os Jogos de Tóquio, realizados em 2021 devido à pandemia de Covid-19, marcaram a estreia de Laurel Hubbard, representante da Nova Zelândia na categoria feminina de levantamento de peso, como a primeira mulher trans a participar das Olimpíadas.

Mulheres brasileiras nas Olimpíadas

As mulheres brasileiras estrearam nas Olimpíadas em 1932, nos Jogos de Los Angeles. Com apenas 17 anos, a nadadora Maria Lenk foi a primeira mulher a representar o Brasil e também a única sul-americana na disputa em uma Olimpíada. Ela competiu nas provas de natação e, mesmo sem conquistar medalhas, sua participação foi um marco importante para o esporte feminino no país.

Em 1936, nos Jogos Olímpicos de Berlim, o Brasil levou seis atletas mulheres. Mas foi em 1964, nos Jogos de Tóquio, que tivemos o primeiro grande destaque. Aída dos Santos, então com 27 anos, foi a única mulher na delegação brasileira e alcançou a quarta posição no salto em altura, um feito impressionante.

O primeiro pódio

O ano de 1996, nos Jogos de Atlanta, trouxe um momento histórico: Sandra Pires e Jackie Silva conquistaram a medalha de ouro no vôlei de praia e foram as primeiras mulheres brasileiras a chegar ao topo do pódio olímpico. Nesse mesmo ano, a equipe feminina de basquete também brilhou, levando a medalha de prata.

Medalhistas

No atletismo, Maurren Maggi fez história em 2008, nos Jogos de Pequim, ao vencer a prova de salto em distância, tornando-se a primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha de ouro em uma prova individual.

No futebol, nomes como Marta, eleita várias vezes a melhor jogadora do mundo, ajudaram a seleção a conquistar medalhas de prata em Atenas 2004 e Pequim 2008, além de muitas outras performances marcantes.

No judô, Rafaela Silva trouxe o primeiro ouro para o Brasil nessa modalidade, nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. 

Jogos de Tóquio

As mulheres brasileiras tiveram um desempenho notável nas Olimpíadas de Tóquio, conquistando 3 das 7 medalhas de ouro do Brasil. Elas também alcançaram um feito inédito em termos de proporção de medalhas: das 21 medalhas totais que o Brasil trouxe para casa, 9 foram ganhas por mulheres ou equipes femininas, representando 41% do total:

  • Na ginástica artística, Rebeca Andrade brilhou ao conquistar duas medalhas: a primeira medalha de ouro do Brasil na ginástica feminina e uma prata no individual geral.
  • Martine Grael, de 30 anos, e Kahena Kunze, também de 30, conquistaram o bicampeonato olímpico na vela.
  • A nadadora Ana Marcela Cunha, de 29 anos, finalmente colocou a medalha olímpica de ouro ao lado das várias medalhas de campeonatos mundiais que já tinha.

Também é importante destacar Rayssa Leal, de apenas 13 anos, que conquistou a medalha de prata no skate street e se tornou a atleta brasileira mais jovem a ganhar uma medalha olímpica. 

A trajetória das mulheres nas Olimpíadas é um testemunho inspirador de perseverança e superação. Em pouco mais de um século, a presença feminina nos jogos cresceu mais de 40 vezes, uma evolução que reflete a determinação e a coragem de inúmeras atletas que abriram portas para gerações futuras. 

As conquistas de atletas como Maria Lenk, Maurren Maggi, e Rebeca Andrade são símbolos de que sonhos podem ser alcançados, barreiras podem ser quebradas e o impossível pode se tornar realidade. 

Que essas histórias continuem a inspirar novas gerações de mulheres a perseguirem seus sonhos, no esporte e além, com a certeza de que o futuro é promissor e cheio de oportunidades.

Melina Zanotto

Melina Zanotto é Jornalista, formada pela Universidade de Caxias do Sul em 2007. De lá para cá, sempre atuou com conteúdo digital em seus mais diversos formatos. Hoje, é redatora da Rede Enem, produzindo textos para o Blog do Enem e Curso Enem Gratuito.
Categorias: Enem, História
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