As mulheres no esporte: 3 mil anos proibidas nas Olimpíadas

Veja como foi que as mulheres viraram este jogo Conheça as atletas que fizeram a história do esporte e furaram o bloqueio no Brasil. Foi com muita garra, muita luta. Não teve moleza para elas conseguirem entrar num território por milênios reservado aos homens, e conquistar o ouro.

As mulheres enfrentam desigualdades de gênero em quase todas as esferas da sociedade. No esporte não é diferente. As mulheres no esporte ficaram proibidas de disputar as olimpíadas desde a origem. Foram praticamente três mil anos para conseguir entrar no jogo. 

A história dos jogos iniciais que deram origem às olimpíadas vem do século VIII a.C.  Somente no início do Século XX é que as mulheres passaram a pressionar diretamente para participar, a partir de 1900. A primeira brasileira a competir foi a nadadora Maria Lenk, aos 17 anos de idade, em 1932. Veja como foi esssa trajetória, e as brasileiras que furaram este bloqueio no século XX.

O Blog do Enem trouxe para você esta aula essencial elaborada pela professora Milena Boeng Souza, do Curso do Encceja, e do Canal do Curso Enem Gratuito.  Assim você pode chegar com tudo nas questões de História, de Atualidades, e de Educação Física nas provas do Enem e do Encceja quando o esporte ou a luta das mulheres for o tema.

Para você dominar este assunto é preciso ir na raiz, no início de tudo, para entender o que é a desigualdade de gênero. As mulheres no esporte não tinham nem a chance da disputa até o século XX. Muito menos de sonhar com o ouro. Rebeca Andrade - Mulheres no EsporteEsta foto da nossa atleta Rebeca Andrade, medalha de ouro na Ginástica Olímpica em Tóquio, em 2021, era impossível de acontecer antes da metade do século XX.

As atletas pioneiras no Brasil, que abriram o caminho nas primeirs décadas do século XX para as mulheres no esporte foram Maria Lenk, nas piscinas e olimpíadas, e Maria Esther Bueno, nas quadras de tênis dos torneios mundiais.

Mulheres no esporte e Desigualdade de Gênero

A desigualdade de gênero diz respeito às diferenças de poder e oportunidades entre homens e mulheres. Ela existe desde muito cedo na nossa sociedade.

Dizemos que a nossa sociedade é patriarcal, onde os homens possuem mais poder de decisão e mais oportunidades que as mulheres, e até mesmo uma certa autoridade.

Mulheres no esporte, só no final do Século XIX

A ideia de que esporte não é para mulher é bem antiga. Desde a Grécia Antiga, considerada o berço dos esportes e das competições, acreditava-se que mulheres não poderiam praticar esportes pois isso as deixava masculinizadas.

E a entrada das mulheres no esporte foi muito lenta e demandou de mulheres muito fortes para que isso acontecesse. Até o final do século XIX, pouquíssimas mulheres praticavam esportes.

Para que isso mudasse, algumas mulheres, e, diga-se de passagem, mulheres muito fortes, precisaram tomar frente. Vamos conhecer quem foram as principais atletas que viabilizaram a prática esportiva feminina.

As precursoras do esporte

Em 1896, quando as mulheres ainda eram proibidas de participarem dos Jogos Olímpicos, a grega Stamati Revithi fez um protesto. Ela realizou a prova de maratona, porém do lado de fora do estádio e acabou a prova mais rápido que muitos homens.

Outro grande nome a nível internacional é Alice Melliat. Alice juntou-se a um grupo de 10 mulheres e reivindicaram a suas participações na primeira edição dos Jogos Olímpicos Modernos. Isso ocorreu em Paris no ano de 1900, quando o grupo liderado por Alice simplesmente entrava nas provas e participava junto com os homens, sem pedir licença..

A primeira mulher a conquistar uma medalha foi Charlotte Cooper, nas duplas mistas, na Olimpíada de 1900, ao lado de um homem, claro. Após sucessivos protestos e pressões, o Comitê Olímpico Internacional (COI) só começa a reconhecer oficialmente as mulheres como atletas olímpicas em 1936!

Maria Lenk: pioneira do Esporte no Brasil

Um grande nome no nosso país é a nadadora Maria Lenk. Com apenas 17 anos, Maria foi a única mulher de toda delegação olímpica brasileira nas Olimpíadas de 1932, em Los Angeles.

A dificuldade das mulheres para praticas esportes eram tantas, que pra termos uma noção melhor, em 1940, o então atual Presidente Getúlio Vargas lançou um decreto (Decreto-Lei 3.199) que proibia as mulheres de praticarem esportes, pois isso não condizia com a sua natureza feminina. Dá pra acreditar?A nadadora Maria Lenck - Mulheres no esporteMesmo assim, Maria Lenk (foto acima) insistiu, e competiu nos Estado Unidos, onde quebrou vários recordes. Ainda lá, concluiu sua graduação em educação física na Universidade de Illinois.

De volta ao Brasil, em 1942, Maria Lenk contribuiu para a fundação da Escola Nacional de Educação Física, no Rio de Janeiro. Foi ela também a primeira mulher a ser diretora de uma faculdade de Educação Física em toda América do Sul.

Maria Esther Bueno

Outro grande nome do esporte feminino é a tenista Maria Esther Bueno. Apesar de não ter abraçado diretamente nenhuma causa feminista para a entrada das mulheres no esporte, Maria Esther se tornou uma das melhores tenistas do mundo em épocas de grande desigualdade de gênero.

Maria Esther nasceu em São Paulo, onde já se aventurou por outros esportes, mas seus olhos sempre brilharam pelo tênis. Ela foi atleta em tempos difíceis para as mulheres no esporte, atuando entre as décadas de 50 e 70.Mulheres no Esporte - Maria Esther BuenoVeja na foto Maria Esther Bueno em quadra. Ela fez história com a conquista de diversos prêmios, conquistando um total de 71 títulos em toda a sua carreira. Não é pra qualquer um!

Em 1960 ela foi a primeira mulher a vencer um Gram Slam de tênis, uma grande e importante competição do esporte. Ela inclusive foi parar no Guiness Book, pois conseguiu vencer uma partida na final do US Open (outra importante competição) em apenas 19 minutos!

Percebemos o quanto Maria Esther é importante e responsável por empoderar com seu enorme talento muitas mulheres que se aventuram no mundo do esporte.

As brasileiras nas Olimpíadas

Agora, um fato um tanto quanto triste: as mulheres só receberam o direito de participarem de todas as modalidades esportivas nos Jogos Olímpicos em 2012.

As mulheres no esporte ainda não venceram todas as barreiras. Ainda há um certo preconceito e algumas modalidades que são consideradas apenas masculinas e outras como apenas femininas.

Atualmente, o Brasil conta com um quadro grande de atletas mulheres que se destacam. Falando um pouco no esporte mais popular do nosso país, o Futebol, temos a jogadora Marta, que se destacou pelo seu talento em cinco olimpíadas e nos campeonatos mundiais. Ela foi atleta olímpica em Atenas 2004, Pequim 2008, Londres 2012, Rio 2016 e, agora, Tóquio 2020.

Marta é atualmente uma das melhores jogadoras do mundo. Já ganhou esse título 6 vezes pela Federação Internacional de Futebol (FIFA). Marta foi criada no interior de Alagoas, onde jogava futebol com os meninos do bairro, quando o esporte era longe de ser considerado algo para mulheres.

Depois de passar por muitas situações de preconceito e falta de oportunidade, Marta foi aceita no Vasco, seu primeiro time. Claramente ela se destacava por suas habilidades com a bola.  Marta consagrou sua carreira jogando também na Suécia e nos Estados Unidos.Podemos perceber a desigualdade de gênero pelo exemplo de Marta. Notamos que as mulheres não possuem as mesmas oportunidades que os homens, principalmente em modalidades culturalmente consideradas masculinas.

Mulheres da nova geração de ouro

Naturalmente a mídia e os registros da história dão espaço privilegiado para as mulheres no esporte que conquistam torneios mundiais ou conquistam medalhas nas Olimpíadas.

O Brasil tem uma seleção de mulheres de ouro, que abriram o caminho disputando eliminatórias, chegando nas olimpíadas, disputando com garra, e conquistando medalhas de bronze, prate e ouro. Elas já são centenas, milhares no somatório de todas as modalidades. Na Olimpíada de Tóquio (2021), os destaques brasileiros no feminino, nos esportes individuais, ficaram para a judoca Mayra Aguiar (na foto à esquerda), a primeira atleta brasileira a conquistar três medalhas olímpicas;

Para a ginasta Rebeca Andrade, a primeira brasileira a conquistar medalha na ginástica olímpica – e logo de cara estreando com uma de prata  e uma de ouro; e para ainda adolescente Rayssa Leal, com apenas 13 anos, e medalha de prata no Skate.

E ainda têm muitas mulheres  em dupla no esporte que já estão ou que vão gabaritar pódio brasileiro em Tóquio. Laura Pigossi e Luísa Stefani cravaram bronze na dupla feminina do tênis.  Na disputa de barcos a vela, na Categoria 49FX, conquistaram a medalha de ouro e se tornaram bicampeãs olímpicas Martine Grael e  Kahena Kunze. E vêm mais por aí.

Resumo especial com a Milena Boeng

Confira agora uma aula-resumo preparada pela professora Milena Boeng Souza, para ajudar os participantes do Enem e do Encceja a se ligarem na trajetória de dificuldades e lutas das mulheres no esporte.

Viu só como as mulheres no esporte não tiveram vida fácil? E nem foi só no esporte não. A divisão social do trabalho ao longo da história tem sido implacável com as mulheres.

Como você viu na aula-resumo em vídeo, desigualdade de gênero está em toda a nossa sociedade. Apesar de já ter melhorado, muita coisa ainda pode mudar. E, para as mulheres no esporte, nada foi diferente.

A Divisão Social do Trabalho

Os homens entraram primeiro no mercado de trabalho e conquistaram cargos de poder (na política, por exemplo) antes das mulheres.

Essa ausência feminina em papeis mais notáveis na sociedade, fez com que a mulher acabasse com uma certa desvantagem social, e ficasse um pouco de lado.

As mulheres tradicionalmente eram as responsáveis pelo trabalho doméstico e pela maternidade. E o homem o responsável por trabalhar e trazer a renda para a família.

Porém, dessa maneira, mas mulheres acabavam por ficarem dependentes dos homens, pois não tinham independência financeira e nem poder de decisão.

Mas essa desigualdade social só teve a devida atenção com o surgimento de movimentos feministas. O feminismo nada mais é que um movimento social em busca da igualdade de gênero. As mulheres precisam ter a mesma voz na sociedade que os homens. Afinal, somos todos iguais.

Com o passar do tempo, os movimentos feministas ganham força, “desmascarando” a desigualdade de gênero, que muitas vezes fica escondida como se fosse algo normal ou natural.

Como podemos observar, a desigualdade entre os gêneros é um processo social, que se implantou de acordo com o desenvolvimento das culturas. Podemos concluir então, que essa desigualdade não é algo natural ao ser humano, e sim um processo criado culturalmente.

Podemos entender melhor isso pois algumas poucas sociedades no mundo possuíam uma estrutura matriarcal, onde a mulher possuía mais poder que os homens.

Movimento Feminista e as mudanças

Desde os primeiros movimentos feministas até os dias de hoje, muita coisa mudou. As desigualdades tão enraizadas em nossa sociedade foram vistas com outros olhos.

As mulheres que nasciam sabendo que seriam fadadas à vida doméstica e à maternidade começaram a se perguntar se não podiam fazer outras coisas, como trabalhar ou estudar.

E assim as coisas começaram a mudar. As mulheres começaram a tomar voz e tomar atitudes que antes eram vistas como masculinas.

Para termos uma noção, no Brasil, apenas em 1932 que as mulheres conseguiram o poder de votar. Antes disso, apenas os homens tinham o poder de decidir e opinar sobre quem seriam os representantes políticos. Dá pra imaginar?

O esporte é uma das dimensões da luta das mulheres

Muitas vezes, no esporte, as mulheres precisam se esforçar muito mais para possuir uma posição de igualdade.  Uma consciência coletiva precisa acontecer vinda de homens e mulheres para que uma igualdade de gênero seja alcançada. Isso nada mais é do que responsabilidade social.

Veja mais sobre as brasileiras nas olimpíadas e sobre a fisiologia do esporte.

(*) – O texto desta publicação foi adaptado a partir da publicação original de aula da professora Milena Boeng Souza no Curso do Encceja.

 

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