A Poesia no Movimento Modernista no Brasil: Literatura Enem

Veja a poesia da segunda geração do movimento modernista no Brasi. Veja a graça de Carlos Drummond de Andrade, Jorge Lima e Murilo Mendes como destaques de gênio

Ao receber como herança tudo o que foi conquistado pela geração de 1922, a segunda geraçãodo movimento modernista no Brasil se estende de 1930 a 1945. Nesse post você irá estudar o momento histórico e as principais poesias produzidas no segundo momento do Modernismo em nosso país!

A Semana de Arte Moderna, em 1922, é um marco na história das artes no Brasil. E um dos temas mais importantes da literatura brasileira e das Artes Plásticas para o  Enem, o Encceja, e o  Vestibular.

A partir daquele marco as produções literárias, tanto a poesia como a prosa, e as artes plásticas passaram a olhar para o país e produzir interpretações oficinais, extremamente ricas e refletiam um conturbado momento histórico na origem e na Segunda Geração Modernista.

Para compreender melhor esta aula sobre o Modernismo a dica é começar com o resumo da Semana de Arte Moderna, com o professor Rolo, do Canal Curso Enem Gratuito. Veja “que loucura” foi aquela “Semana”:

Muito bom este resumo do professor Rolo! Agora, veja o que acontecia no Brasil e no Mundo no começo do Segundo Momento do Modernismo

O Segundo Movimento Modernista no Brasil

Internacionalmente viviam-se problemas econômicos e políticos, como o avanço do nazifacismo na Europa Central (Alemanha e Itália) e também na Península Ibérica (Portugal e Espanha). Logo em seguida eclode a  Segunda Guerra Mundial.

Num plano interno, Getúlio Vargas sobe ao poder em 1930 se consolida como ditador, no Estado Novo, a partir de 1937. Ele governa continuamente desde 1930 e até o final da Segunda Guerra, em 1945. Depois ele volta, eleito pelo voto popular, de 1951 até 1954, quando comete suicídio.

Dessa maneira, no mundo das artes incorporam-se preocupações relacionadas ao destino dos homens e ao “estar no mundo”.1

Em 1945, ano que a guerra chega ao fim, das explosões atômicas, da criação da ONU e, no Brasil, da derrubada de Getúlio Vargas, é aberto um novo período na história literária brasileira.

A Segunda Geração do Movimento Modernista

A poesia da segunda fase do modernismo é a representação de um amadurecimento e um aprofundamento das conquistas da geração de 1922, pois nota-se a influência exercida por Mário e Oswald de Andrade sobre os jovens que iniciaram sua produção poética depois de ser realizada a Semana de Arte Moderna.  segunda geração modernista, muriloNesta imagem acima veja o poeta modernista Murilo Mendes, por Guignard.

Veja com o professor Rolo as principais características da Segunda Geração do Movimento Modernista no Brasil, com destaque para os grandes poetas daquele momento:

O Verso Livre na Poesia Modernista

Em sua forma, os novos poetas da Segunda Geração Modernista cultivam o verso livre e a poesia sintética, como, por exemplo, no poema Cota zero, de Drummond:

  • Stop.
  • A vida parou
  • ou foi um automóvel?

No entanto, é na temática que se nota a nova postura artística, que passa a questionar a realidade com mais força, além do artista se questionar como indivíduo e até mesmo como artista na sua tentativa de explorar e de interpretar o estar no mundo.

Com isso, tem-se uma literatura mais construtiva e mais politizada, que não quer se afastar das grandes transformações desse período da segunda geração do Movimento Modernista no Brasil.

O percurso de Murilo Mendes (1901 – 1975) no Modernismo brasileiro é bem interessante, pois das sátiras caminha para uma poesia religiosa, sem perder o contato com a realidade social.

Porém, como afirma o poeta, o social não se opõe ao religioso e, assim, lhe permite acompanhar todas as transformações vividas pelo século XX, tanto no campo econômico e político quanto no campo artístico.

Em seu livro de estreia, Poemas (1930), apresentou novas maneiras de se expressar, versos vivos e livre associação de imagens e conceitos, características presentes em toda a sua poética. A partir do livro Tempo e eternidade, publicado em 1935, o poeta passa a cultivar a poesia religiosa.

Apesar do dilema entre a Poesia e a Igreja, o finito e o infinito, o material e o espiritual, o poeta não abandona a temática social. Daí surge a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma civilização em caída, tema constante em sua obra.

O filho do século (Murilo Mendes)

Nunca mais andarei de bicicleta

Nem conversarei no portão

Com meninas de cabelos cacheados

Adeus valsa “Danúbio Azul”

Adeus tardes preguiçosas

Adeus cheiros do mundo sambas

Adeus puro amor

Atirei ao fogo a medalhinha da Virgem

Não tenho forças para gritar um grande grito

Cairei no chão do século vinte

Aguardem-me lá fora

As multidões famintas justiceiras

Sujeitos com gases venenosos

É a hora das barricadas

É a hora da fuzilamento, da raiva maior

Os vivos pedem vingança

Os mortos minerais vegetais pedem vingança

É a hora do protesto geral

É a hora dos vôos destruidores

É a hora das barricadas, dos fuzilamentos

Fomes desejos ânsias sonhos perdidos,

Misérias de todos os países uni-vos

Fogem a galope os anjos-aviões

Carregando o cálice da esperança

Tempo espaço firmes porque me abandonastes.

 Solidariedade (Murilo Mendes)

Sou ligado pela herança do espírito e do sangue

Ao mártir, ao assassino, ao anarquista.

Sou ligado

Aos casais na terra e no ar,

Ao vendeiro da esquina,

Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida,

Ao mecânico, ao poeta, ao soldado,

Ao santo e ao demônio,

Construídos à minha imagem e semelhança.

A poesia de Jorge de Lima

A exemplo de Murilo Mendes, Jorge de Lima (1895 – 1953) também caminhou curiosamente pela literatura brasileira: do parnasianismo evoluiu para a poesia social e a poesia de caráter religioso.

Em sua poesia social nos deparamos com belas composições, de coloração regional, em que o poeta usa sua memória de menino branco, marcado pela infância repleta de imagens dos engenhos e de negros trabalhando em regime de escravidão.

De maneira mais ampla aborda temas que denunciam a desigualdade social, chegando a uma incrível expressão poética através de um jogo de palavras:

Mulher proletária – única fábrica

que o operário tem, (fabrica filhos)

tu

na tua superprodução de máquina humana

forneces anjos para o Senhor Jesus,

forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,

o operário, teu proprietário

há de ver, há de ver:

a tua produção,

a tua superprodução,

ao contrário das máquinas burguesas

salvar o teu proprietário.

A partir de Tempo e eternidade, Jorge de Lima volta-se para a “restauração da Poesia em Cristo”, trabalhando juntamente com Murilo Mendes. Nessa obra observa-se a luta entre o material e o espiritual.

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Drummond por Drummond

A obra poética de Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987) acompanha a evolução dos fatos, registrando tudo o que acontecia, tudo o que o rodeava e que existia na realidade do dia a dia. São poesias que refletem os problemas do mundo.

Em alguns momentos, como em Carta a Stalingrado, o poeta está cheio de esperanças e, logo mais a frente, se encontra totalmente desesperançado com o caminhar dos acontecimentos:

A poesia é incomunicável. / Fique torto no seu canto. / Não ame.

Porém é, antes de qualquer coisa, um poeta que nega todas as maneiras de fuga da realidade; seus olhos estão sempre ligados para o momento presente, direcionados para uma possível transformação da realidade:

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.

Estou preso à vida e olho meus companheiros

Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.

Entre eles, considere a enorme realidade.

O presente é tão grande, não nos afastemos.

Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.

não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.

não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.

não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,

a vida presente.

Exercícios sobre a segunda geração do Movimento Modernista

1- (Enem 2009)

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e

[comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e

[sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003.

Carlos Drummond de Andrade é um dos expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular, como se percebe claramente na construção do poema Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de construção do texto literário e as concepções artísticas modernistas, conclui-se que o poema acima

a) representa a fase heroica do modernismo, devido ao tom contestatório e à utilização de expressões e usos linguísticos típicos da oralidade.

b) apresenta uma característica importante do gênero lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados históricos.

c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua comunidade, por intermédio de imagens que representam a forma como a sociedade e o mundo colaboram para a constituição do indivíduo.

d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as prendas resgatadas de Itabira.

e) apresenta influências românticas, uma vez que trata da individualidade, da saudade da infância e do amor pela terra natal, por meio de recursos retóricos pomposos.

 

2- (UFU) Leia o poema abaixo:

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio tão amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas,
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa e fácil:
– Em que espelho ficou perdida
a minha face?”

(Cecília Meireles)

Assinale a alternativa INCORRETA de acordo com o poema:

  • a) A expressão “mãos sem força”, que aparece no primeiro verso da segunda estrofe, indica um lado fragilizado e impotente do “eu” poético diante de sua postura existencial.
  • b) As palavras mais sugerem do que escrevem, resultando, daí, a força das impressões sensoriais. Imagens visuais e auditivas, em outros poemas, sucedem-se a todo momento.
  • c) O tema revela uma busca da percepção de si mesmo. Antes de um simples retrato, o que se mostra é um autorretrato, por meio do qual o “eu” poético olha-se no presente, comparando-se com aquilo que foi no passado.
  • d) Não há no poema o registro de estados de ânimo vagos e quase incorpóreos, nem a noção de perda amorosa, abandono e solidão.

Gabarito

1- C

2- D

O texto sobre a segunda geração do Movimento Modernista no Brasil  foi escrito pela professora Analice, formada em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp. Atualmente é mestranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, professora de português na rede particular de ensino de Florianópolis e colaboradora do Blog do Enem. Facebook: http://www.facebook.com/analice.andrade
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