Povoamento do interior no Brasil Colonial no século XVII

Foi em busca de Ouro e Diamente, de captura de indígenas, e de rotas de transporte que começou o povoamento do interior do Brasil Colonial. Veja agora no resumo Enem:

Até o século XVI, com a extração de pau-brasil e a produção açucareira, o povoamento do interior do Brasil  não ocorria. A exploração comercial se limitava a uma estreita faixa territorial próximo ao litoral, em função da vegetação e do solo favoráveis a tais práticas respectivamente.

Contudo, em meados do século XVII, teve início a interiorização do povoamento. Isso ocorreu por várias causas e por vários meios, em um contexto de grave crise econômica e política no âmbito colonial. Naquele período a mão-de-obra escrava era utilizada, persistindo até mais dois séculos adiante.

O Povoamento do Interior

Você já aprendeu sobre o Tratado de Tordesilhas. Sim, era um acordo muito estranho, pois que mesmo antes dos portugueses chegarem com Pedro Álvares Cabral na América do Sul já existia um pacto entre Portugual e Espanha que dividia as terras que viessem a ser descobertas por aqui.

As Capitanias Hereditárias, por exemplo, começavam no litoral do Atântico, e terminavam a Oeste na linha imaginária que determinava o limite territorial de Portugal no Tratado de Tordesilhas. Mas, o tratado morreu, e a ocupação com o Povoamento do Interior foi avançando, e chegamos até mais que o dobro da área inicialmente prevista.

A Cronologia da ocupação do interior

1) União Ibérica (1580-1640): a união entre Espanha e Portugal por imposição da Coroa Espanhola colocou em desuso o Tratado de Tordesilhas, permitindo que expedições exploratórias partissem do litoral brasileiro em direção ao que antes era definido como América Espanhola.

2) Tratado de Madri (1750): o fim da União Ibérica foi marcado pela incerteza acerca dos limites entre terras portuguesas e espanholas. Alguns conflitos e acordos sucederam a restauração portuguesa de 1640, até que os países ibéricos admitissem o princípio do “uti possidetis” como critério de divisão territorial no Tratado de Madri. O princípio legitima a posse territorial pelo seu uso, ou seja, pela sua exploração.

Com base nesse princípio, Portugal passou a ter salvo-conduto em áreas ocupadas e exploradas desde a União Ibérica por expedições com origem no Brasil. Imagem 1: Mapa dos Tratados de Madri (1750) e Tordesilhas (1494)1

3) Crise açucareira (séc.XVII): a crise açucareira no Brasil impulsionou a busca por novas riquezas no interior. A procura por metais preciosos, pelo extrativismo vegetal na Amazônia e por mão-de-obra escrava indígena foram alguns dos focos principais das expedições exploratórias intensificadas no século XVII.

As atividades exploratórias do interior

  1. ) Entradas: expedições patrocinadas pela Coroa com intuito de procurar metais, fundar povoados, abrir estradas etc.
  2. ) Bandeiras: expedições particulares que partiam de São Vicente com o intuito de explorar riquezas no interior. As bandeiras podem ser classificadas em três tipos:

a) Bandeiras de prospecção: procuravam metais preciosos (ouro, diamantes, esmeraldas etc);

b) Bandeiras de apresamento ou preação: capturavam indígenas no interior para vendê-los como escravos. Essas bandeiras existiam desde o início da colonização e se intensificaram após a expulsão dos holandeses (1654), quando o fornecimento de escravos africanos, antes controlados em grande parte pelos holandeses, ficou comprometido, encarecendo muito esse tipo de mão-de-obra.

Os principais alvos do apresamento indígena foram as missões jesuíticas, onde os indígenas já se encontravam em acentuado processo de aculturação pela imposição de uma cultura europeia caracterizada pelo catolicismo, pelo regime de trabalho intenso e pela língua vernácula (português ou espanhol).

c) Bandeiras de sertanismo de contrato: expedições contratadas por donatários, senhores de engenho ou pela própria Coroa para o combate militar a tribos indígenas rebeldes e quilombos. O exemplo mais importante foi a bandeira de Domingos Jorge Velho, responsável pela destruição do Quilombo de Palmares.

Imagem 2: Mapa com os três diferentes tipos de bandeiras: apresamento de indígenas, prospecção e sertanismo de contrato2

Dica 1: A principal diferença entre entrada e bandeira era que a primeira era organizada pela Coroa e a segunda era de iniciativa particular. Mais uma vez, a iniciativa particular foi mais influente no povoamento do Brasil do que a própria Coroa, a exemplo do que já havia ocorrido com o sistema de Capitanias Hereditárias no contexto da empresa açucareira.

Resumo sobre o Povoamento do Interior

Confira agora com o professor Felipe uma divertida aula-resumo para você nunca mais esquecer como se deu o Povoamento do Interrior do Brasil Colonial.

Excelente este resumo. Têm mais aulas com o professor Felipe no canal do Curso Enem Gratuito.  Agora, vamos continuar com a estutura da aula que foi preparada para você.

Veja o avanço do Povoamento:

Veja a seguir as Monções; as Missões Jusuíticas; a Mineração; o Tropeirismo; e a Pecuária.

3) Monções: expedições comerciais que partiam de São Paulo para abastecer as áreas de mineração do interior. A principal rota era a que ligava São Paulo a Cuiabá, usando os rios Tietê, Pardo e Cuiabá como rota de navegação ou como simples orientação geográfica, posto que as áreas de relevo acidentado não eram navegáveis.

4) Missões jesuíticas: arrebanhavam indígenas de várias tribos, principalmente daquelas já desmanteladas pela ação das bandeiras de apresamento. Os indígenas eram reunidos em aldeamentos chefiados pelos padres jesuítas, que impunham a esses indígenas uma dura disciplina marcada pelo regime de intenso trabalho e educação voltada à catequização indígena.

As principais missões jesuíticas portuguesas se concentravam na Amazônia e tinham como base econômica a extração e a comercialização das chamadas “drogas do sertão”, isto é, especiarias da Amazônia como o cacau e a baunilha.

A Região Sul do Brasil abrigava as principais missões espanholas, em terras que hoje estão no Rio Grande do Sul. formou-se ali um importante patrimônio arquitetônico na região de Sete Povos das Missões. A base econômica dessas missões era a pecuária, favorecida pelas gramíneas dos Pampas.3Fonte: blogdoenem.com.br Imagem com o Mapa das missões portuguesas e espanholas. A linha marrom vertical aplicada no centro do mapa mostra a demarcação prevista pelo antigo Tratado de Tordesilhas.

Dica  do Blog sobre as Misões Jesuíticas:

Repare que a “questão indígena” foi o fator de principal divergência e conflito entre bandeiras e missões, isto porque enquanto os bandeirantes visavam a escravização indígena, os padres jesuítas diziam proteger os indígenas sob o argumento de catequizá-los.

Enquanto uns se empenhavam na expansão territorial e econômica, outros se empenhavam na expansão do Catolicismo, principalmente após as perdas ocorridas no contexto da Reforma Protestante.

5) Mineração:

Atividade concentrada no interior, inclusive em áreas situadas além dos antigos limites de Tordesilhas, como as minas de Goiás e Mato Grosso. A mineração nessas áreas, principalmente em Minas Gerais, provocou nas primeiras décadas do século XVIII um decréscimo populacional em Portugal em função do intenso povoamento dessas áreas mineradoras do interior.

6) Tropeirismo:

Era o comércio com vistas ao abastecimento das cidades mineradoras de Minas Gerais. Os tropeiros conduziam verdadeiras tropas de gado do Rio Grande do Sul até a feira de Sorocaba, em São Paulo. Daí, os tropeiros partiam para os pólos mineradores de Minas Gerais.

Além de venderem gado (vacum e muar principalmente) nessas áreas, os tropeiros também transportavam e vendiam mantimentos no lombo do gado. Ao longo do “Caminho das Tropas” surgiram vários entrepostos de comércio e pernoite dos tropeiros, os chamados “pousos de tropa”, que deram origem a importantes povoados no interior de Santa Catarina e Paraná.

7) Pecuária:

a exclusividade do litoral para as áreas açucareiras, conforme determinava a Coroa no início da colonização, permitiu o desenvolvimento de fazendas pecuaristas no interior nordestino, principalmente durante a invasão holandesa, quando a expansão canavieira eliminou o pasto de muitos engenhos.

A expansão da pecuária para o interior de Pernambuco seguiu a rota do Rio São Francisco até alcançar Minas Gerais no início do século XVIII, quando a pecuária passou a abastecer muito mais as cidades mineradoras do que os engenhos.4Fonte: geografalando.blogspot.com  Imagem 4: Mapa econômico do Brasil no século XVIII

Entradas e Bandeiras

Se você quiser complementar a sua revisão, confira agora sobre as Entradas e Bandeiras como os instrumentos essenciais utilizados para exploração e ocupação do interior do Brasil.

O Brasil Colonial

Antes de fazer os exercícios veja agora uma aula-show com o professor Felipe, com uma síntese sobre o Brasil Colonial:

Vamos ver agora como esse conteúdo é cobrado nos vestibulares e no Enem! Teste seus conhecimentos!

Exercícios sobre o Povoamento do Interior

Questão 1 – UFSC (2003)

“No ano de 1649 partiram os moradores de São Paulo para o sertão, em demanda de uma nação de índios distante daquela capitania muitas léguas pela terra adentro, com a intenção de os arrancarem de suas terras e os trazerem às de São Paulo e aí se servirem deles como costumam. Após meses de viagem, encontraram uma aldeia de índios da doutrina dos padres da Companhia, pertencentes à Província do Paraguai. Todos estavam na igreja, e o padre rezava missa, quando entraram os soldados de mão armada na aldeia, e  dentro da mesma igreja prenderam todos os índios e índias que não puderam escapar”.

Carta do Pe. Antônio Vieira, ao Provincial dos Jesuítas, escrita do Maranhão em 1653.

Fundamentado(a) no fragmento da correspondência do Pe. Antônio Vieira e nos seus co-nhecimentos da História do Brasil Colonial, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

01. Pe. Vieira informava ao seu provincial sobre as ações de apresamento de índios realizadas pelos Bandeirantes.

02. As denúncias do Pe. Vieira eram justificadas, pois durante a colonização do Brasil foi proibida a escravização dos índios aldeados.

04. Os Bandeirantes agiam por ordem dos Reis de Portugal, que desejavam enfraquecer o poderio militar dos espanhóis apoiados pelos índios do Paraguai.

08. Foram frequentes os ataques dos Bandeirantes às Reduções Jesuíticas, durante o século XVII, com o objetivo de apresamento de índios a serem utilizados como escravos.

16. Durante o período histórico conhecido como Brasil Colônia, os jesuítas justificavam a escravização dos negros, mas condenavam a escravização dos índios aldeados.

32. A escravização de índios e negros era uma exigência da Santa Sé para facilitar a sua evangelização.

Resposta: O somatório correto é 27 (01 + 02 + 08 + 16).

Questão 2 – ENEM (2012)5Cartaz da Revolução Constitucionalista. (Foto: Disponível em: http://veja.abril.com.br. Acesso em: 29 jun. 2012)

Elaborado pelos partidários da Revolução Constitucionalista de 1932, o cartaz apresentado pretendia mobilizar a população paulista contra o governo federal.

Essa mobilização utilizou-se de uma referência histórica, associando o processo revolucionário

a) à experiência francesa, expressa no chamado à luta contra a ditadura.

b) aos ideais republicanos, indicados no destaque à bandeira paulista.

c) ao protagonismo das Forças Armadas, representadas pelo militar que empunha a bandeira.

d) ao bandeirantismo, símbolo paulista apresentado em primeiro plano.

e) ao papel figurativo de Vargas na política, enfatizado pela pequenez de sua figura no cartaz.

Resposta: A alternativa correta é a letra “d”.

Felipe Carlos - História
O texto desta aula foi sobre o Povoamento do Interior do Brasil Colonial foi preparado pelo professor Felipe Carlos de Oliveira para o Blog do Enem. Felipe é formado em licenciatura e bacharelado em História pela UFSC, especializado em Interdisciplinaridade pelo IBPEX e mestre em História pela UFSC. É professor de colégios e cursinhos da Grande Florianópolis desde 2001.
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