Lucas Felpi tirou 1000 na redação Enem 2018 e garantiu vaga no curso de Ciências da Computação na USP e na UNICAMP, duas das universidades mais concorridas do país. Além disso, passou em 2 universidades dos Estados Unidos! Confira as suas dicas para mandar bem no texto e a redação que deu a nota 1000 ao estudante.
Garantir uma redação nota 1000 no Enem não é tarefa fácil, visto que apenas 55 estudantes em 2018 conseguiram o feito. Apesar da dificuldade, é importante lembrar que notas acima de 800 pontos já são consideradas altas.
Tirar uma nota assim pode te ajudar a conquistar uma vaga nas melhores universidades. Mas, para isso, é preciso muita dedicação, estudos e treino, rotina que Lucas Felpi, de 17 anos, conheceu bem no ano passado.
Além da vaga em Engenharia da Computação na Usp e na Unicamp, ele também entrou no curso de Ciência da Computação em duas universidades dos Estados Unidos: a University of Michigan e a Georgia Tech. Entrevistamos o estudante para saber quais são as dicas essenciais para conquistar a sonhada redação nota 1000.
5 dicas para redação nota 1000 no Enem
A primeira dica do estudante é manter um ritmo constante de produção de texto. Em 2018, Lucas costumava escrever quatro redações por mês, o que significa uma redação por semana.
Esse ritmo pode até ser considerado tranquilo, mas ajuda a otimizar o tempo de escrita e organizar a estrutura argumentativa do texto. A tática de Lucas para construir a argumentação era debater consigo a temática e procurar sempre se posicionar.
Mas como assim? Ao escolher um tema atual, Lucas separava argumentos e discutia o assunto como se a banca avaliadora estivesse lendo o seu ponto de vista: “a ideia era construir uma visão autoral sobre o tema, para desenvolver o texto e uma argumentação consistente”.
A segunda dica, e uma das mais importantes, era escolher quais exemplos iria citar em sua argumentação. Assim, sempre que lia a proposta de redação, Lucas já pensava em séries, filmes e livros que pudessem encaixar na temática.
Foi assim que ele acabou citando a série Black Mirror na redação de 2018. O tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet” pareceu propício, já que a série cita temas da atualidade, como tecnologia e comportamentos pessoais. Lucas também gosta de citar produções distópicas como “1984”, “Admirável Mundo Novo” e “O Conto da Aia”.
Muitos alunos ficam com medo quando pensam em referências para utilizar na redação. É difícil conciliar a carga de horário de estudos com uma rotina de leitura de livros e consumo de séries e filmes. Por isso, Lucas traz outra recomendação:
“Não há necessidade de buscar elementos para serem as suas referências, usem suas próprias experiências como referências! Qualquer música, livro, filme, série, qualquer forma de cultura adquirida sua é um repertório e pode ser discutido em uma redação Enem”.
Ainda falando sobre referências, o estudante trouxe a terceira dica: uma pequena lista com alguns filósofos que costuma citar em seus textos: “Eu utilizava os filósofos que mais gosto, e por isso conhecia as teorias, como Aristóteles, Kant, Bauman, Foucault e Escola de Frankfurt“.
A quarta dica é básica: leitura. Segundo o estudante, “quanto mais você lê, maior o número de formas de escrita diferentes que você entra em contato e, com isso, consegue descobrir a sua”. Além disso, Lucas lembra que o hábito de ler pode ajudar nas questões de português, humanas e interpretação de texto.
Outro ponto positivo da leitura é a ampliação do vocabulário, importante para evitar a repetição de palavras e mostrar domínio da Língua Portuguesa para os avaliadores da redação do Enem.
Perguntado sobre o que fazia nos momentos em que o desânimo chegava, Lucas trouxe a última dica: “sair com os amigos, ouvir uma música alegre, ou assistir um episódio daquela série hilária que não deu tempo de continuar pelos estudos”.
Quando se sentia cansado, o estudante tinha certeza que os estudos não renderiam e, por isso, respeitava seu tempo de descanso. Os resultados de Lucas mostram que suas estratégias dão certo: no Enem 2017, sua nota na redação ficou em 760 pontos. Já em 2018, conquistou a redação nota 1000. Em falar nela, que tal conferirmos seu texto?
A redação nota 1000 de Lucas Felpi no Enem 2018
No livro 1984 de George Orwell, é retratado um futuro distópico em que um Estado totalitário controla e manipula toda forma de registro histórico e contemporâneo, a fim de moldar a opinião pública a favor dos governantes. Nesse sentido, a narrativa foca na trajetória de Winston, um funcionário do contraditório Ministério da Verdade que diariamente analisa e altera notícias e conteúdos midiáticos para favorecer a imagem do Partido e formar a população através de tal ótica.
Fora da ficção, é fato que a realidade apresentada por Orwell pode ser relacionada ao mundo cibernético do século XXI: gradativamente, os algoritmos e sistemas de inteligência artificial corroboram para a restrição de informações disponíveis e para a influência comportamental do público, preso em uma grande bolha sociocultural.
Em primeiro lugar, é importante destacar que, em função das novas tecnologias, internautas são cada vez mais expostos à uma gama limitada de dados e conteúdos na internet, consequência do desenvolvimento de mecanismos filtradores de informações a partir do uso diário individual.
De acordo com o filósofo Zygmund Bauman, vive-se atualmente um período de liberdade ilusória, já que o mundo globalizado não só possibilitou novas formas de interação com o conhecimento, mas também abriu portas para a manipulação e alienação semelhantes vistas em “1984”. Assim, os usuários são inconscientemente analisados pelos sistemas e lhes é apresentado apenas o mais atrativo para o consumo pessoal.
Por conseguinte, presencia-se um forte poder de influência desses algoritmos no comportamento da coletividade cibernética: ao observar somente o que lhe interessa e o que foi escolhido para ele, o indivíduo tende a continuar consumindo as mesmas coisas e fechar os olhos para a diversidade de opções disponíveis.
Em um episódio da série televisiva Black Mirror, por exemplo, um aplicativo pareava pessoas para relacionamentos com base em estatísticas e restringia as possibilidades para apenas as que a máquina indicava – tornando o usuário passivo na escolha. Paralelamente, esse é o objetivo da indústria cultural para os pensadores da Escola de Frankfurt: produzir conteúdos a partir do padrão de gosto do público, para direcioná-lo, torná-lo homogêneo e, logo, facilmente atingível.
Portanto, é mister que o Estado tome providências para amenizar o quadro atual. Para a conscientização da população brasileira a respeito do problema, urge que o Ministério de Educação e Cultura (MEC) crie, por meio de verbas governamentais, campanhas publicitárias nas redes sociais que detalhem o funcionamento dos algoritmos inteligentes nessas ferramentas e advirtam os internautas do perigo da alienação, sugerindo ao interlocutor criar o hábito de buscar informações de fontes variadas e manter em mente o filtro a que ele é submetido.
Somente assim, será possível combater a passividade de muitos dos que utilizam a internet no país e, ademais, estourar a bolha que, da mesma forma que o Ministério da Verdade construiu em Winston de “1984”, as novas tecnologias estão construindo nos cidadãos do século XXI.
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