O direito ao voto feminino é uma das maiores conquistas sociais da história moderna,e marca uma mudança significativa na luta por igualdade de gênero.
O caminho até essa vitória foi longo e desafiador, mas representou um passo essencial para garantir a participação política das mulheres em todo o mundo.
Hoje, vamos abordar o surgimento do movimento sufragista, sua expansão global e a importância do voto feminino no Brasil. Boa leitura!
O início da luta pelo voto feminino
A luta pelo voto feminino começou a ganhar força no século XIX, em meio a uma série de movimentos por direitos civis e políticos. Até então, as mulheres eram excluídas da vida pública, sendo vistas como cidadãs de segunda classe, sem acesso à participação política.
Na maioria dos países, o direito ao voto era restrito a homens, especialmente aqueles de classes sociais mais altas.
O contexto do século XIX e a exclusão das mulheres
No contexto do século XIX, as ideias de cidadania estavam diretamente relacionadas à posse de bens, educação e, principalmente, ao gênero.
Mulheres eram vistas como responsáveis apenas pela esfera doméstica, enquanto os homens eram os únicos considerados aptos para participar da vida política e tomar decisões públicas.
Tudo isso gerou uma série de restrições legais e sociais que impediram por muito tempo o avanço das mulheres no campo político.
Surgimento do Movimento Sufragista
A partir desse cenário de exclusão, o movimento sufragista começou a se organizar. As ativistas passaram a exigir direitos iguais, com destaque para a demanda pelo voto, visto como um meio indispensável para que as mulheres pudessem influenciar as decisões políticas que afetavam suas vidas.
Em países industrializados, como Reino Unido e Estados Unidos, a mobilização se intensificou com protestos, campanhas públicas e a criação de organizações feministas dedicadas à causa.
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O Movimento Sufragista e suas conquistas
O movimento sufragista teve grande impacto ao redor do mundo, resultando em uma série de conquistas políticas importantes. Entre as décadas de 1890 e 1990, as mulheres de diversos países finalmente obtiveram o direito ao voto, mas esse processo foi marcado por grandes desigualdades temporais e geográficas.
Nova Zelândia e Finlândia
A Nova Zelândia foi pioneira ao reconhecer o voto feminino em 1893, tornando-se o primeiro país a garantir esse direito às mulheres.
Logo em seguida, a Finlândia, em 1906, foi o segundo país a permitir que as mulheres votassem e se candidatassem a cargos políticos.
Essas vitórias representaram um avanço significativo na luta pela igualdade, servindo de exemplo para outros países que estavam começando a debater o tema.
Desigualdades e diferenças regionais
Embora alguns países tenham liderado o movimento de concessão do voto às mulheres, em muitos lugares essa luta se arrastou por décadas.
Enquanto as mulheres na Europa e em partes da América Latina começaram a votar no início do século XX, outras regiões, como a África do Sul, só reconheceram o voto feminino em 1993.
O exemplo mais recente é o da Arábia Saudita, que só garantiu esse direito às mulheres em 2011, mostrando que a desigualdade de gênero ainda persiste em várias partes do mundo.
A luta pelo voto feminino no Brasil
No Brasil, a luta pelo voto feminino teve início ainda no final do século XIX, mas enfrentou diversas barreiras. Durante o processo de criação da Constituição Republicana de 1891, uma emenda que garantiria o voto às mulheres foi proposta, mas acabou sendo rejeitada.
No entanto, essa rejeição não desmotivou o movimento feminista, que continuou a crescer e a se fortalecer ao longo das décadas seguintes.
As primeiras ativistas brasileiras
O movimento sufragista no Brasil foi impulsionado por mulheres pioneiras que dedicaram suas vidas à luta por direitos iguais.
Bertha Lutz
Em 1922, Bertha Lutz fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF), uma organização dedicada à promoção de direitos civis e políticos das mulheres.
Através da FBPF, ela mobilizou mulheres de diferentes regiões do Brasil para lutar pelo direito ao voto, além de outras questões como igualdade no trabalho e acesso à educação.
A Federação organizava congressos, eventos públicos e se envolvia em debates com políticos influentes, pressionando o governo a aprovar legislações favoráveis aos direitos das mulheres.
Bertha foi também uma das responsáveis por representar o Brasil em conferências internacionais sobre os direitos das mulheres, o que ajudou a fortalecer o movimento feminista no país e conectá-lo a uma rede global de ativismo.
Leolinda de Figueiredo Daltro
Leolinda de Figueiredo Daltro, educadora e indigenista, fundou, em 1910, o Partido Republicano Feminino, uma organização que defendia a participação das mulheres na política e o direito ao voto.
Ela também foi uma das primeiras a desafiar as normas sociais de sua época, organizando passeatas e manifestações pelo sufrágio feminino, o que a colocou em confronto direto com as elites políticas.
Além da atuação no movimento sufragista, Leolinda foi uma defensora dos direitos indígenas e lutou por melhorias na educação dessas populações. Sua contribuição foi de extrema importância para a consolidação do feminismo no Brasil.
Nísia Floresta
Antes mesmo de Bertha Lutz e Leolinda Daltro, outra mulher pavimentou o caminho para o movimento feminista brasileiro: Nísia Floresta.
Nascida em 1810, Nísia foi uma das primeiras intelectuais a se posicionar abertamente em defesa dos direitos das mulheres.
Sua obra mais famosa, Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens (1832), foi uma das primeiras publicações no Brasil a questionar a submissão feminina e a defender a igualdade de gêneros.
Embora sua luta tenha ocorrido em um contexto muito anterior à conquista do voto feminino, Nísia Floresta é considerada uma precursora do feminismo no Brasil, e influenciou gerações de ativistas com suas ideias sobre educação e emancipação das mulheres.
Carlota Pereira de Queirós
Carlota Pereira de Queirós, médica e educadora, foi eleita a primeira deputada federal do Brasil em 1934, pouco após a conquista do voto feminino.
Sua presença no Congresso Nacional foi um marco histórico para a representatividade feminina na política, e ela desempenhou um papel ativo nas discussões sobre saúde pública e educação, além de defender pautas relacionadas aos direitos das mulheres.
Como uma das primeiras mulheres a ocupar um cargo político de relevância no país, Carlota Queirós ajudou a abrir portas para outras mulheres que buscavam se inserir na política brasileira.
Alzira Soriano
Em 1929, Alzira Soriano foi eleita prefeita de Lajes, no Rio Grande do Norte, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo de prefeita no Brasil e na América Latina.
Sua eleição foi um marco para o movimento feminista e para a democracia brasileira, já que ela venceu em um contexto no qual as mulheres ainda enfrentavam sérios desafios para exercer plenamente seus direitos políticos.
Durante sua gestão, Alzira defendeu políticas voltadas para a educação e a saúde, e sua trajetória inspirou muitas outras mulheres a seguirem o caminho da política, provando que a presença feminina nos espaços de poder é possível e essencial para o progresso social.
Conquista do voto feminino no Brasil
A grande vitória do movimento sufragista brasileiro aconteceu em 1932, quando o então presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto nº 21.076, garantindo o direito de voto às mulheres.
Essa decisão representou o fim de uma longa batalha. No ano seguinte, em 1933, as brasileiras finalmente participaram das primeiras eleições, votando para a Assembleia Constituinte.
Apesar da vitória, o voto feminino ainda era facultativo. Somente com a promulgação da Constituição de 1934, o direito de alistamento eleitoral feminino foi consolidado como um dever.
A partir de então, as mulheres passaram a exercer o voto em igualdade de condições com os homens.
O impacto do voto feminino na sociedade
A conquista do voto feminino teve um impacto profundo na sociedade, no Brasil e em todo o mundo. O direito de participar das decisões políticas abriu um novo caminho para a igualdade de gênero e a representatividade.
Representatividade feminina na política
Apesar dos avanços, a sub-representação feminina na política ainda é um desafio em muitos países.
No Brasil, as mulheres ainda enfrentam barreiras culturais e institucionais que limitam sua presença em cargos eletivos.
Nas eleições de 2024, por exemplo, apenas 1 em cada 5 pré-candidatos às prefeituras nas capitais brasileiras é mulher.
Entre os 172 pré-candidatos previstos para disputar as prefeituras das capitais nos 26 estados, apenas 37 são mulheres, representando 20% do total.
Fora das capitais, a situação é semelhante: segundo o censo mais recente sobre prefeitas brasileiras, realizado pelo Instituto Alziras, as mulheres ocupam cargos majoritariamente em municípios menores e de menor renda, que abrangem apenas 9% da população do país.
O direito ao voto feminino foi uma conquista histórica e um marco na luta pela igualdade de gênero. Embora essa vitória tenha ocorrido em momentos diferentes ao redor do mundo, o impacto da participação política das mulheres é inegável.
Hoje, as mulheres continuam a lutar por mais espaço e representatividade nos centros de poder, inspiradas por aquelas que lideraram essa importante batalha pelo voto feminino.