O Renascimento foi um movimento que transformou a arte, a cultura e a ciência europeias na transição da Idade Medieval para a Idade Moderna. Saiba mais nesta aula! O Renascimento foi um movimento artístico, cultural e científico que teve início na Itália e percorreu a Europa entre os séculos XIV e XVI.
Você pode até nunca ter estudado o Renascimento e o Humanismo. Mas com certeza você já ouviu falar de Leonardo da Vinci e sua Monalisa, e de William Shakespeare e seu romance Romeu e Julieta. Ambos foram homens renascentistas, ao lado de gigantes como Michelangelo, Rafael Sanzio e Galileu Galilei. Nesta aula você vai entender o que foi o Renascimento, quais eram suas características, suas diferentes fases e quem foram seus principais representantes.
O que foi o Renascimento
Em poucas palavras, podemos dizer que o Renascimento ou Renascença foi um movimento artístico, cultural e científico que surgiu no norte da Itália no fim do século XIV e que se espalhou por toda Europa durante dois séculos.
Renascimento significa “nascer de novo”, “renascer”. A palavra “Renascimento” foi utilizado para nomear o movimento pela 1ª vez pelo arquiteto toscano Giorgio Vasari (1511-1574). Ele queria expressar o desejo de fazer renascer o pensamento e a arte dos antigos gregos e romanos em oposição aos valores cultivados durante o período medieval.
A escultura “Davi” (1501–1504), de Michelangelo, é uma das obras renascentistas em que há clara inspiração na arte da Antiguidade Clássica.
Origens do Renascimento
Na origem do Renascimento, o território italiano ainda não era unificado. O que hoje conhecemos como Itália era formado por diversos reinos com culturas, regimes políticos e economias diferentes. Para saber mais sobre o assunto você pode conferir nossa aula sobre a unificação da Itália.
Dentre esses reinos existiam algumas cidades que eram importantes centros comerciais, como Florença, Milão, Roma, Gênova e Veneza. Com o decorrer do Renascimento Urbano e Comercial, essas cidades enriqueceram com o comércio que ganhava cada vez mais espaço.
O enriquecimento dos comerciantes da região impulsionou uma reforma educacional. Até então a educação era função da Igreja, mas a nova burguesia desejava tomar a tarefa para si. Dessa forma, surgiram universidades laicas que promoviam ideias de valorização do ser humano.
Essas reflexões resgataram conhecimentos da Antiguidade clássica. Obras de autores gregos e romanos que até então estavam sob o controle da Igreja foram recuperados pelos estudiosos laicos. Foi assim que surgiu o Renascimento, movimento que influenciou as artes e diversas áreas do conhecimento, como a medicina, a astronomia, a filosofia e a literatura.
O mecenato
Além disso, o Renascimento só foi possível porque grandes comerciantes financiavam pintores, escultores e arquitetos para que pudessem desenvolver suas obras. Essa prática é chamada de mecenato, e os financiadores eram chamados de mecenas. Como a burguesia estava interessada em se impor socialmente perante à nobreza e ao clero, os mecenas exibiam as obras de arte em suas residências. Assim, a arte ficou intimamente associada à riqueza e ao poder.
Apesar de a Renascença ter iniciado na Itália, também teve destaque em outros países. Para a expansão das ideias renascentistas, por exemplo, seus pensadores tiveram a invenção da imprensa por Gutemberg, na Alemanha, como grande aliada. Nas ciências, as contribuições se dividiram entre a Inglaterra, Alemanha, Holanda, Dinamarca e a Itália.
Principais características do Renascimento
- Humanismo, que consiste na valorização do ser humano.
- Naturalismo, ou valorização da natureza como obra de Deus, interligada ao ser humano.
- Racionalismo ou culto à razão, no qual é necessário uma prova científica para todos os fatos da natureza, indo contra o misticismo medieval e o dogmatismo da Igreja. Claro que essas tentativas de se obter provas “racionais” eram buscadas através de um grande cientificismo.
- Universalismo, no qual há uma grande necessidade de saber todas as matérias daquele tempo para se poder provar algum experimento.
- Classicismo, que foi a revitalização da cultura clássica, época que reunia todas as características anteriormente citadas. Veja nossa aula sobre o Classicismo na literatura.
- Individualismo, sentimento típico burguês, que visava à autopromoção conseguida por do meio do mecenato, no qual burgueses patrocinavam e protegiam as artes e os artistas, com encomendas de obras artísticas.
- Heliocentrismo, que defendia o Sol como o centro do universo, e não a Terra. Muitos precursores do heliocentrismo morreram queimados na fogueira da Igreja Católica, como foi o caso de Giordano Bruno. Galileu Galilei chegou a fazer a demonstração científica de que a terra girava ao redor do sol, mas foi obrigado a se calar para não ser torturado pela Igreja Católica.
Renascimento e Humanismo
Antes do Renascimento, a forma de conhecer o mundo era dominada pelo teocentrismo, em que Deus (Théos, em grego) era o centro de todas as explicações. No entanto, o movimento renascentista começou a afirmar a importância central do ser humano para desenvolver conhecimento.
Isso não quer dizer que os renascentistas eram anticristãos. Pelo contrário: eles consideravam o ser humano a obra suprema de Deus. Por isso, não era um movimento de negação ao cristianismo, mas uma atitude de divinizar o ser humano e valorizá-lo. Além disso, muitos religiosos também patrocinaram artistas para que decorassem as igrejas.
Dessa maneira, os estudiosos laicos começaram a estudar sobre as diversas atividades e aspectos humanos. As individualidades das pessoas começaram a ser mais valorizadas e a criatividade era encorajada. Junto a isso se destacaram disciplinas como Poesia, Filosofia, Gramática, Matemática, História e Direito Romano. Esse movimento de ideias ficou conhecido como Humanismo.
O desenho “Homem vitruviano”, feito por Leonardo da Vinci em 1490, remete à ideia humanista de que “o homem é a medida de todas as coisas”.
Períodos do Renascimento
Podemos dividir o movimento renascentista em três fases: o Trecento, o Quatrocento e o Cincocento. Vamos ver um resumo sobre eles em seguida.
O Trecento ocorreu no século XIV, ou seja, nos anos 1300. Foi marcado como o auge do Humanismo, onde temos representantes como Dante Alighieri, Pico Della Mirandola e Francisco Petrarca.
O século seguinte é conhecido como Quatrocento. Foi o período de maior florescimento do Renascimento, que toma suas características clássicas, aliadas ao conhecimento do mundo daquele tempo.
A obra “O Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, é uma das mais famosas pinturas do Renascimento e foi produzida por volta de 1485, durante o Quatrocento.
Por fim, o Cincocento, ou o fim do Renascimento ocorreu no no século XVI. Nessa época, pelo a Igreja Católica passou a dar maior incentivo para a arte barroca. Isso ocorreu por causa das críticas da Reforma Protestante no que tange às representações de imagens dentro das igrejas. Além disso, o movimento renascentista entrou em declínio por causa da decadência comercial da Itália. Devido ao fechamento da rota oriental pelos turcos, as cidades italianas não conseguiram se manter no mesmo patamar de dois séculos atrás.
Renascimento artístico
Os pintores e escultores do Renascimento introduziram inovações que marcaram a arte de sua época. Veja quais foram elas:
- Realismo: o esforço em retratar a figura humana e as paisagens exatamente como elas eram.
- Domínio da Perspectiva: técnica que transmite a sensação de profundidade.
- Autorretrato: o artista passou a pintar a si próprio.
Os artistas de maior destaque no Renascimento italiano, assim como suas obras, foram: Michelangelo (escultura e pintura), Leonardo da Vinci (escultura, pintura e ciência), Rafael Sânzio (pintura), Donatello (escultura), Giotto di Bondone (pintura e arquitetura), Caravaggio (pintura), Sandro Botticelli (pintura), entre muitos outros.
Observe a imagem abaixo a escultura Pietá, de Michelangelo. Perceba como a anatomia humana foi evidenciada. A Renascença contrastou com a cultura medieval exatamente por mostrar o humano em toda a sua forma e grandeza. É um realismo que impressiona e choca ao mesmo tempo!
Renascimento científico
O Renascimento se caracteriza por mudanças também no campo da ciência e da religião. Foi durante o Renascimento que os estudos científicos demonstraram a teoria do Geocentrismo, em que a Terra seria o centro do universo, era inválida. Esse erro estava sendo propagado por séculos e era defendido pela Igreja Católica.
No entanto, uma soma de contribuições de matemáticos e astrônomos provou o contrário, que Sol era o centro em torno do qual a Terra orbitava ao seu redor. O primeiro cientista a provar a teoria do Heliocentrismo (Sol no centro) foi Nicolau Copérnico (1473-1543), em sua obra “Tradado da das revoluções dos corpos celestes”.
Heliocentrismo
Em seguida novas descobertas foram se somando às descobertas de Copérnico. O dinamarquês Johannes Kepler (1571-1630), por exemplo, descreveu que a órbita dos planetas era elíptica. Enquanto isso, na Alemanha, Tycho Brahe (1546-1601) fez importantes observações sobre o movimento dos astros.
Foi uma revolução no mundo da ciência, mas criou conflitos com os dogmas da religião católica. O filósofo e monge Giordano Bruno (1548-1600), por exemplo, morreu queimado na fogueira porque defendia a tese de que a Terra não era o centro do Universo, e de que este seria infinito.
Tanto os cientistas Copérnico, Kepler e Brahe quanto o filósofo Giordano Bruno abriram caminho para que Galileu Galilei (1564-1642) fizesse importantes descobertas para a astronomia. Observando o movimento dos corpos celestes com uso o de uma luneta, Galilei conseguiu obter as evidências de que a Terra não era o centro do universo.
Estavam colocadas por Galileu as bases científicas para afirmar que a Terra girava ao redor do Sol. Ele foi punido pela Igreja Católica, obrigado a permanecer em silêncio sobre a sua descoberta para não ser torturado. Além desse feito histórico, Galileu também descobriu as leis das matemáticas que explicavam o movimento e a queda dos objetos.
Filosofia no Renascimento
O período do Renascimento também é conhecido como Humanista Renascentista porque os filósofos passaram a poder pensar sobre a atividade humana e sobre ideias. Além disso, a filosofia passou a se concentrar menos na natureza de Deus e criou, inclusive, uma nova concepção da ética.
Veja o esquema abaixo para você entender melhor:Durante a Idade Medieval, a filosofia grega como investigação racional da natureza, do homem e do universo foi deixada de lado para uma explicação por meio das escrituras consagradas no cristianismo.
Os textos dos filósofos da Grécia Antiga foram reinterpretados por padres da igreja com o viés cristão. No entanto, fora da Europa, estudiosos árabes e persas traduziam as obras dos filósofos gregos e incorporavam parte das suas ideias na cultura islâmica.
Já na religião, o cristianismo começou a sofrer internamento com padres e cristãos que foram contra a forma que a Igreja vivia e pregava a religião. Neste sentido, houve uma reforma dessas atitudes a partir das contestações à condução da Igreja Católica.
Videoaula
Para finalizar seus estudos sobre o Renascimento, confira a videoaula abaixo e, em seguida, resolva os exercícios.
Exercícios
1 – (ENEM/2014)
Uma vez que a razão me persuade de que devo impedir-me de dar crédito às coisas que não são inteiramente certas e indubitáveis tanto quanto àquelas que nos parecem manifestamente ser falsas, o menor motivo de dúvida que eu nelas encontrar bastará para me levar a rejeitar todas.
DESCARTES, R Meditações de Filosofia Primeira. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado).
Ao introduzir a dúvida como método, Descartes busca alcançar uma certeza capaz de re-fundar, sobre princípios sólidos, a ciência e a filosofia. Seu procedimento teórico indica
a) a capacidade de o entendimento humano duvidar das certezas claras e distintas.
b) a ideia de que o ceticismo é base suficiente para edificar a filosofia moderna.
c) o rompimento com o dogmatismo da filosofia aristotélico-tomista que prevalecera na Idade Média.
d) a primazia dos sentidos como caminho seguro de condução do homem à verdade.
e) o estabelecimento de uma regra capaz de consolidar a tradição escolástica de pensamento.
2 – (Mackenzie SP/2020)
“Os humanistas, num gesto ousado, tendiam a considerar como mais perfeita e mais expressiva a cultura que havia surgido e se desenvolvido no seio do paganismo, antes do advento de Cristo. A Igreja, portanto, para quem a história humana só atingira a culminância na Era Cristã, não poderia ver com bons olhos essa atitude.”
(SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo: Unicamp, 1988. p.14)
Quanto aos humanistas, podemos dizer que
a) eram em sua maioria cristãos e desejavam reinterpretar o Evangelho à luz da experiência e dos valores da Antiguidade. Exaltavam o indivíduo, a vontade e a capacidade de ação dos homens.
b) valorizavam os antigos gregos e romanos em detrimento da cultura medieval. Assim, os humanistas retornam ao paganismo e fazem dessa religião sua crença principal provocando a ira da Igreja Católica.
c) acreditavam que somente Deus é a fonte de energias criativas ilimitadas, detentor único de virtude e glória. Porém, seu teocentrismo não os impediu de produzir obras que valorizassem a ação humana.
d) acreditavam, inspirados nos valores clássicos, na capacidade transformadora dos homens induzidos por força criadora de Deus. Diante disso, a Igreja Católica adotou uma política de total apoio ao movimento.
e) eram orientados pela ideia de submissão total do homem a Deus e à Igreja. Obedeciam à ordem social imposta pelo clero e justificam esse posicionamento a partir dos textos da antiguidade clássica.
3 – (UFMS/2020)
Em 2019, completaram-se 500 anos da morte de Leonardo Da Vinci, considerado um dos maiores expoentes do movimento denominado Renascimento Cultural. Esse movimento foi um marco importante na sociedade ocidental, pois promoveu uma mudança profunda na maneira de pensar, impactando crenças e valores que norteavam o homem europeu até então. Sobre as características do Renascimento Cultural, assinale a alternativa correta.
a) O conhecimento passou a ser dirigido pelo clero católico, que administrava escolas e universidades. Assim, essa nova visão de mundo foi compreendida a partir de um único caminho: o da fé e da religião.
b) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e início do XV. Foi marcado por um espírito científico, de valorização da razão e do raciocínio lógico, colocando o ser humano como centro do universo.
c) Surgiu na Península Itálica no século XVI. Promoveu mudanças políticas, econômicas e sociais baseadas nas ideias de liberdade, igualdade e fraternidade.
d) Surgiu na Península Itálica no final do século XIV e início do XV. Nesse contexto, muitos artistas e intelectuais foram buscar inspiração num período considerado por eles de grandes realizações e esplendor: o Egito antigo.
e) Os renascentistas defendiam uma visão humanista, naturalista e teocêntrica, buscando superar a antiguidade clássica, período que classificaram como trevas, devido à falta de produção de conhecimento.
4 – (UNESP SP/2020)
[Leonardo da Vinci] viu que “a água corrente detém em si um número infinito de movimentos”.
Um “número infinito”? Para Leonardo, não se trata apenas de uma figura de linguagem. Ao falar da variedade infinita da natureza e sobretudo de fenômenos como as correntes de água, ele estava fazendo uma distinção baseada na preferência por sistemas analógicos sobre os digitais. Em um sistema analógico, há gradações infinitas, o que se aplica à maioria das coisas que fascinavam Leonardo: sombras de sfumato, cores, movimento, ondas, a passagem do tempo, a dinâmica dos fluidos.
(Walter Isaacson. Leonardo da Vinci, 2017.)
A partir da explicação do texto sobre Leonardo da Vinci, pode- se afirmar que
a) o princípio cristão da vida eterna orientou o pensamento renascentista.
b) o materialismo pré-socrático foi a principal sustentação teórica do Renascimento.
c) os experimentos da Antiguidade oriental basearam a ciência renascentista.
d) as concepções artísticas medievais fundamentaram a arte renascentista.
e) a observação da pluralidade da natureza foi um dos fundamentos do Renascimento.
GABARITO:
- C
- A
- B
- E