MEC confirma recorde no Índice de Abstenção do Enem: 51,5%

A tendência de uma desistência maciça se confirmou. Mais da metade dos inscritos não fez as provas no primeiro dia. Foi o maior índice de abstenção no Enem de todos os tempos. O INEP cometeu irregularidades no país todo, com salas de aula lotadas de participantes do Enem, acima do limite recomendado no protocolo de segurança.

Com os portões fechados desde as 13 horas deste domingo, e muitos problemas por erros do INEP no cálculo do numero de participantes em salas de aplicação de provas no país todo, a expectativa pela estatística de comparecimento de candidatos era de que o índice de abstenção no Enem 2020 fosse o mais alto da história. Nas últimas edições a maior abstenção no primeiro dia de provas aconteceu em 2016, com 30% de inscritos ausentes.

Abstenção bate recorde negativo

Neste ano de 2021 a projeção do Blog do Enem era que a taxa ficasse entre 40% e 50%. Mas, foi pior. A taxa real divulgada pelo Ministério da Educação foi de 51,5%, a mais alta da história.

O ministro culpou a imprensa ao invés de reconhecer a desorganização do próprio MEC e do INEP, que projetaram salas e aulas com 80% da capacidade da ocupação, desrespeitando a recomendação dos protocolos de seguranca em 50% de ocupação. Com isso, muitos alunos voltaram pra casa sem fazer a prova, e entraram para a estatística de abstenção. Não tiveram culpa, e foram penalizados sem poder fazer a prova.

O Ministério da Educação e o INEP confirmaram que dos 5,8 milhões de inscritos no Enem 2020, apenas 2,8 milhões compareceram para fazer as provas. Estavam inscritos  5.523.029 estudantes, mas só  2.680.697 (48,5%) conseguiram realizar as provas.

Porém, uma parte da perda nas estatísticas aconteceu por culpa do INEP, que planejou salas de aula com 80% da capacidade, o que não foi aceito em muitos locais pelos fiscais ou pelos próprios participantes. O MEC ainda não deu resposta sobre como solucionar este erro do próprio governo.

Os números exatos  do comparecimento à prova deste domingo, 17 de janeiro de 2021, foram divulgado no domingo de noite pelo Ministério da Educação e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas após o encerranento oficial das provas deste primeiro dia, às 19 horas. O tempo de duração das provas deste domingo é mais longo, por causa da prova de redação ser realizada na mesma oportunidade que as provas de Ciências Humanas e Linguagens.

Aumento no índice de abstenção do Enem

As equipes de mobilização das faculdades que todo ano fazem presença para distribuição de brindes como bonés, canetas, garrafas de água ou barras de cereal para os participantes do Enem  já estavam relatando no domingo de tarde que “deu muito menos candidato presente que nos anos anteriores”.

A professora Cibele Schuelter, consultora da Hoper Educação para o Ensino Superior, e que coodena equipes de mobilização em diversas universidades, relatou que a percepção dos membros das equipes era de que 2/5 dos participantes não compareceram. Assim o índice de abstenção no Enem para o primeiro dia de provas poderia ficar na faixa dos 40%, ou mais, o que de fato se confirmou.

Faz mesmo todo sentido a taxa tão alta de abstenção em função destes últimos 10 meses de Pandemia do Novo Coronavírus no Brasil. Confira na tabela os índices de absenção dos últimos anos. A menor taxa de abstenção ocorreu em 2019, com 23% de faltas no primeiro dia de provas.Assim que o Ministério da Educação liberar a taxa de abstenção da primeira prova do Enem 2020, realizada neste domingo 17 de janeiro de 2021, vamos atualizar a tabela.

Abstenção de concluintes influencia a nota de todos

O professor Ademar Celedônio, Diretor de Ensino da Plataforma SAS Educação, ressalta que é preciso observar qual terá sido a taxa de abstenção dos inscritos para o Enem 2020 que estavam na condição de “concluintes do Ensino Médio”.

Ademar informou que a média dos alunos  para efeito do cálculo da nota final pela TRI considera o desempenho de todos os participantes, mas que tem uma ênfase maior na performance dos concluintes do Ensino Médio em cada ano do Exame.

Participantes desmotivados e inseguros

Em novembro o Curso Enem Gratuito e a Hoper Educação fizeram uma pesquisa com os participantes do Enem perguntando se eles se sentiam seguros para comparecer às provas ainda durante a Pandemia. Naquela época 69% responderam que não se sentiam seguros.

Nesta semana da primeira rodada de provas do Enem o Curso Enem Gratuito realizou uma Enquete no Instagram, com mais de 1400 respostas, onde os percentual que respondeu à mesma pergunta foi de 79%. Ou seja, a percepção de risco agora em janeiro mostrou-se muito maior do que em novembro.

Outro fator que irá contribuir para o elevado índice de abstenção nestas provas do Enem é que na maioria das escolas públicas do país o início do atendimento aos alunos com aulas remotas demorou muito para se estabelecer. Sem contar que uma parte expressiva dos estudantes não detinha os meios para acompanhar as aulas pela internet.

Este fator funcionou ao longo de 2020 como desmotivador. Em novembro, perguntados se eles se sentiam preparados para fazer as provas, no quesito de conteúdos, tanto alunos de escolas públicas quanto privadas responderam que não se sentiam aptos para realizar o exame. Veja as respostas no quadro:

Com base nestes dados a probabilidade de um aumento significativo no índice de abstenção do Enem 2020 é mesmo real. A professora carioca Claudia Costin, especialista em planejamento educacional, apresentou em 2020 uma análise em que indicava uma taxa de desistência acima de 50% dos inscritos.

Falhas na organização compromentem o INEP

A Defensoria Pública da União entrou na Justiça contra o INEP para suspender a realização das provas, alegando que o INEP tinha previsto 80% de ocupação das salas, o que fere o protocolo de segurança, que determinava 50% de ocupação. A Justiça Federal, porém, deu ganho de causa para o MEC e as provas foram realizadas.

O problema que fôra denunciado pela DPU de fato aconteceu em dezenas de cidades. Em algumas delas os alunos fizeram provas em salas lotadas, acima da ocupação de 50%. Em outras cidades os próprios colégios ou faculdades que alugaram as salas para o INEP providenciaram espaços extras ou cancelaram a aplicação.

Vêm aí mais denúncias contra o INEP, que neste caso foi inepto e irresponsável.

João Vianney dos Valles Santos

Psicólogo e jornalista, Vianney é diretor do Blog do Enem. Tem doutorado em Ciências Humanas, coordenou o Laboratório de Ensino a Distância da UFSC, e Dirigiu o Campus Unisul Virtual. É consultor de EaD da Hoper Educação.
Categorias: Enem
Encontrou algum erro? Avise-nos para que possamos corrigir.

Sisugapixel

Sisugapixel