Entenda o que é Sentido Figurado ou Linguagem Conotativa

Sentido figurado é aquele em que as palavras ou expressões adquirem significados que dependem do seu contexto de uso. Já o sentido literal é utilizado para dar às palavras o significado objetivo que elas possuem num dicionário. Veja exemplos e entenda!

Sentido figurado ou linguagem conotativa é o nome que se dá a palavras ou expressões que não carregam um conteúdo literal. Portanto, podemos explicar como sendo o ato de fugir da norma padrão buscando uma maior expressividade. Dessa maneira, o uso do sentido figurado faz muito o uso de figuras de linguagem e de figuras de palavras.

O que é sentido literal ou denotação

Primeiramente, a linguagem denotativa é aquela que trata do significado básico e objetivo de uma palavra. Assim, uma palavra com sentido denotativo está no seu sentido literal, primário, real.

Quando  uma frase é escrita com sentido literal, ela pode ser compreendida sem ajuda do contexto. Por exemplo: na frase “Gosto de estudar à noite”, a palavra “noite” possui o significado de “período noturno”.

A denotação é meramente informativa e, por isso, não explora os sentidos colaterais das palavras. Essa linguagem também não visa a gerar no leitor nenhum tipo de emoção.

Resumo sobre Denotação x Conotação

A melhor dica para você começar bem este resumo e ver uma introdução super divertida com a professora Camila Zuchetto, do canal do Curso Enem Gratuito. Ela explica bem direitinho as diferenças entre sentido Denotativo e sentido Conotativo. Confira agora:

O que é sentido figurado ou conotação

Por outro lado, a conotação trata do sentido figurado, simbólico das palavras, não literal. Por exemplo, na frase “Há dias que amanhecem noite”, a palavra “noite” possui o sentido de “triste” ou “sombrio”.

Em outras palavras, entendemos que uma palavra pode ser utilizada com dois sentidos diferentes:

  • Literal: a palavra está no texto com seu sentido objetivo, aquele que encontramos no dicionário.
  • Figurado: a palavra aparece com seu sentido alterado, permitindo diferentes interpretações que dependem do seu contexto.

Exemplos de sentido figurado

Em seguida, confira alguns exemplos de frases que utilizam o sentido figurado:

“Estou só o pó”.

“Trabalhei como um condenado nesta semana”.

“Ela está sentindo o peso do mundo nas costas”.

“Eles foram feitos um para o outro”.

“Em rio que tem piranha, jacaré nada de costas”.

“Quando João chegou em casa, parecia que estava morto de fome”.

“Você tem um coração muito mole”.

“Meus filhos eram uns anjos, mas meus netos são uns capetas”.

Sentido figurado na literatura

A conotação ou sentido figurado é uma extensão da denotação. Entretanto, a linguagem literária explora esse recurso num infinito trabalho de alterar e dar novos sentidos às palavras dentro de determinada obra. Podemos ver esses recursos nas obras de diversos autores, como Lima Barreto, por exemplo.

Lima Barreto escreveu romances muito importante na literatura brasileira. Seus livros são leitura obrigatória para quem quer prestar vestibulares e o Enem. Uma de suas obras  mais famosos é “Triste fim de Policarpo Quaresma”.

Agora, observe no título do livro a palavra “triste” e seu significado na obra. Em seguida, coloque o adjetivo depois da palavra fim e perceba a diferença. “Triste fim de Policarpo Quaresma” e “Fim triste de Policarpo Quaresma” nos mostram sentidos diferentes, certo?

Na língua portuguesa, quando colocamos o adjetivo depois do substantivo a que se refere, temos o seu sentido literal e objetivo. Enquanto isso, se empregamos o adjetivo antes do substantivo, como no título do romance de Lima Barreto, temos o sentido figurado.

Figuras de linguagem ou sentido figurado

Para que um texto tenha originalidade e criatividade, muitos escritores “fogem” do padrão da gramática normativa. Portanto, essas “fugas” tem uma função estilística e são chamadas de figuras de linguagem.

As figuras de linguagem são formas de expressão que consistem no emprego de palavras em sentido figurado. Ou seja, são palavras utilizadas em um sentido diferente daquele em que convencionalmente são empregadas. Geralmente elas são utilizadas para dar mais expressão ao que queremos. Dessa maneira, elas podem ampliar o significado de uma palavra, suprir a falta de um termo adequado, ou até mesmo criar significados diferentes.

Exemplos de figuras de linguagem

Por exemplo: “Amar é um deserto e seus temores…” (Djavan). Ao ouvir esse trecho da canção “Oceano”, você precisa fazer uma relação com a imagem que um deserto representa (sofrimento, solidão, sacrifício). Assim, você consegue compreender o que o amor significa para o autor.

Veja um segundo exemplo com um trecho de um texto do poeta gaúcho Mario Quintana:

“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos dois é burro.” 

Então, de que maneira você interpretaria a palavra “burro”? Claro, ela não foi empregada no texto como uma denotação, com o sentido de um animal quadrúpede. Pelo contrário, ela foi usada com sentido figurado que, em seu contexto, quer dizer “indivíduo com falta de inteligência”.

O fato de a palavra “burro”, sendo um substantivo, ser empregada como um adjetivo, indica o uso mais expandido dessa palavra. Isso porque assimilamos que a palavra é usada frequentemente para caracterizar a falta de conhecimento de alguém.

Tipos de figuras de linguagem

Temos três tipos de figuras de linguagem:

  • As de sintaxe, que se dividem em elipse, pleonasmo e aliteração.
  • As de pensamento, que são a antítese, ironia, eufemismo e hipérbole.
  • Por fim, temos as figuras de palavras, que se classificam como metáfora e metomínia.

Elipse

Nesta figura de linguagem, omite-se um termo que pode ser facilmente identificado por meio do seu contexto ou por alguns elementos gramaticais. Por exemplo:

“Jantei sozinho. E quando voltei a casa, fui direto ao atelier, destapei o retrato, lancei uma pincelada ao acaso, tornei a cobrir a tela”. (José Saramago)

Nesse texto de Saramago é omitido o pronome “eu”. Então, imagine  como seria esse trecho com a repetição de tal pronome. Essa omissão torna o texto mais elegante e conciso e, a flexão na 1ª pessoa (eu), permite que a interpretação do texto seja precisa.

Pleonasmo

É a repetição de termos ou ideias com o objetivo de tornar o texto mais expressivo ou enfático, reforçando a mensagem. Veja dois exemplos:

“E rir meu riso e derramar meu pranto”. (Vinicius de Moraes)

A ti tocou-te a máquina mercante”. (Gregório de Matos)

Entretanto, fique atento a uma coisa muito importante: se a repetição de termos não acrescenta nada à mensagem, estamos diante de um pleonasmo vicioso, sendo um defeito de linguagem.

Veja alguns exemplos de tipos de pleonasmos que devem ser evitados:

  1. “Fulano teve uma hemorragia de sangue”. Nesse caso, é errado porque não existe hemorragia de outra coisa que não seja sangue.
  2. “A brisa matinal da manhã lhe fez muito bem”. Existe matinal que não seja de manhã?

Aliteração

É a repetição dos sons cuja natureza consonantal é a mesma. A seguir, veja um poema de Cruz e Sousa que exemplifica o que é aliteração:

“Vozes veladas, veludosas vozes,

volúpias de violões, vozes veladas,

vagam nos velhos vórtices velozes

dos ventos, vivas, vãs vulcanizadas.”

Mas, se os sons que se repetem forem de natureza vocálica­, a figura recebe o nome de assonância, como nos versos de Caetano Veloso:

“Sou um mulato nato no sentido lato

mulato democrático do litoral.”

Antítese

É a aproximação de palavras que tem o sentido oposto, como no exemplo a seguir:

“Os jardins têm vida e morte.” (Cecília Meireles)

Ironia

É o uso de uma palavra, expressão ou frase com seu sentido contrário do literal, a fim de tornar a mensagem satírica. Por exemplo:

“A excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar crianças.” (Monteiro Lobato)

Eufemismo

É a suavização de uma expressão desagradável, sendo substituída por uma menos rude. Perceba os eufemismos no trecho escrito por Machado de Assis:

Querida, ao pé do leito derradeiro

Em que descansas dessa longa vida,

Aqui venho e virei, pobre querida,

Trazer-te o coração do companheiro.”

Hipérbole

É o exagero de uma ideia com o objetivo de ser mais expressiva, como é possível ver nos versos de Chico Buarque:

“O leito dos rios fartou-se

E inundou de água doce

A amargura do mar.”

(Chico Buarque)

Metáfora

É o uso de uma palavra ou expressão no lugar de outra, que possui, entre elas, certa semelhança de sentido. Dessa maneira, as metáforas são um tipo de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.

“Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando Pessoa)

Nesse exemplo, a metáfora ocorre pelos traços de semelhança entre o pensamento e o rio, pela fluidez, profundidade, inatingibilidade de ambos. Atente-se aos textos: se a frase fosse “meu pensamento é como um rio subterrâneo” não teríamos uma metáfora, mas sim uma comparação.

Metonímia

Por último, a metonímia é o emprego de um termo no lugar de outro, mantendo-se uma relação com o todo. Observe os exemplos:

O bonde passa cheio de pernas:

Pernas brancas pretas amarelas.”

(Carlos Drummond de Andrade)

Aqui temos a palavra pernas em lugar de pessoas: seria a parte pelo todo.

“De que importa, se aguarda sem defesa

Penha a nau,  ferro a planta, tarde a rosa?”

(Gregório de Matos)

Nesse segundo exemplo vemos a substituição da matéria pelo objeto: ferro (matéria) equivale a machado (objeto).

Videoaula

Exercícios sobre sentido figurado

1 – (ENEM/2019)

Há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à espera do momento certo para a cortada. O jogo de tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo como bolha de sabão. O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha, sempre perde.

Já no frescobol é diferente. O sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois sabe-se que, se é sonho, é coisa delicada, do coração. Assim cresce o amor. Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim…

ALVES, R. Tênis X Frescobol. As melhores crônicas de Rubem Alves.
Campinas: Papirus, 2012.

O texto de Rubem Alves faz uma analogia entre dois jogos que utilizam raquetes e as diferentes formas de as pessoas se relacionarem afetivamente, de modo que

a) o tênis indica um jogo em que a cooperação predomina, o que representa o distanciamento na relação entre as pessoas.

b) o tênis indica um jogo em que a competição é predominante, o que representa um sonho comum no relacionamento entre pessoas.

c) o frescobol indica um jogo em que a cooperação prevalece, o que simboliza o compartilhamento de sonhos entre as pessoas no relacionamento.

d) o frescobol indica um jogo em que a competição prevalece, o que simboliza um relacionamento em que uma pessoa busca destruir o sonho da outra.

e) o frescobol e o tênis indicam, respectivamente, situações de competição e cooperação, o que ilustra os diferentes sonhos das pessoas no relacionamento.

2 – (ENEM/2013)    Sentido figurado - exercícioCURY, C. Disponível em: http://tirasnacionais.blogspot.com. Acesso em: 13 nov. 2011.

A tirinha denota a postura assumida por seu produtor frente ao uso social da tecnologia para fins de interação e de informação. Tal posicionamento é expresso, de forma argumentativa, por meio de uma atitude

a) crítica, expressa pelas ironias.

b) resignada, expressa pelas enumerações.

c) indignada, expressa pelos discursos diretos.

d) agressiva, expressa pela contra-argumentação.

e) alienada, expressa pela negação da realidade.

3 – (UFPR/2020)   

A tira a seguir, do rato Níquel Náusea, de Fernando Gonsales.

Sentido figurado - exercício 2
(Disponível em: http://www2.uol.com.br/niquel/bau.shtml. Acesso em 07/07/2019.)

Assinale a alternativa que identifica corretamente o recurso linguístico empregado para conferir efeito humorístico à tirinha.

a) Personificação.

b) Comparação.

c) Metonímia.

d) Ambiguidade.

e) Eufemismo.

GABARITO: 

  1. C
  2. A
  3. D
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