A pauta mais recorrente na sociedade brasileira é o combate à corrupção. Até parece que a corrupção está enraizada na cultura brasileira, sendo difícil de combater. O tema é forte candidato para a Redação no Enem. Veja elementos para elaborar um ponto de vista, construir argumentos, e propor uma conclusão com uma intervenção sugerida.
Veja as dimensões do Tema Corrupção para a Redação do Enem. Confira os aspectos da história da corrupção no país e veja como fazer um texto dissertativo-argumentativo nota 1000.
- As perguntas iniciais para discorrer sobre a Corrupção como Tema da Redação Enem são três:
- ( ) – Nunca antes na história deste País a corrupção na administração pública e dos agentes públicos foi tão grande?
- ( ) – A onda atual de corrupção é novidade no Brasil?, ou,
- ( ) – A corrupção sempre campeou por nossas plagas, e está no DNA do brasileiro?
- Ou, por outro lado, numa quarta alternativa sobre corrupção:
- ( ) – A corrupção sempre esteve instalada, mas nunca fôra tão investigada pela polícia e punida pela Justiça?
Todas as afirmativas sobre corrupção podem ser verdadeiras, pois não são excludentes umas às outras. Ao mesmo tempo em que podem ter se expandido ou sido aperfeiçoadas recentemente as antigas práticas de cometer ilícitos de corrupção, quanto os meios de apuração, de profissionalização da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e nos Estados, da Justiça Federal e nos Estados. O Brasil também passou a se alinhar com acordos e leis de combate à corrupção que também se modernizaram com a pressão internacional por controle de lavagem de dinheiro oriundo de todos os tipos de crime.
Veja a seguir os elementos de história, de problematização e de fundamentos que você teria para discutir o Tema da Corrupção numa Redação do Enem.
A Corrupção ao logo da história do Brasil
O tema da Corrupção não é novo. A pauta recente dos escândalos recentes do Mensalão, nos governos de Luís Inácio Lula da Silva; do Petrolão, nos governos de Dilma Roussef; e de episódios como os da investigação de corrupção nas empresas JBS e no Porto de Santos, no governo de Michel Temer; e da condenação do ex-presidente Lula por corrupção estão na memória imediata.
O início do governo de Jair Bolsonaro ficou marcado nos primeiros meses por uma séria e falsas informações divulgadas pelo próprio presidente nas redes sociais. Na prática, uma corrupção da informação, pela distorção da realidade.
Mas, a corrupção na administração pública no Brasil vem de longe. Nos estudos de História e de Literatura você já sabe que no primeiro texto escrito em solo brasileiro já estava implícita a prática da corrupção política.
Na célebre Carta de Pero Vaz de Caminha ao então rei de Portugal, ao mesmo tempo em que narrava os feitos da ‘Descoberta’ de Pedro Álvares Cabral, Caminha embutiu no texto um pedido de favor político para um parente seu. Literalmente, escreveu Pero Vaz de Caminha em nossa Carta Inaugural:
E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que por me fazer singular mercê, mande vir da Ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro – o que d’Ela receberei em muita mercê. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Pero Vaz de Caminha.Reprodução de trecho da Carta de Pero Vaz de Caminha, e ilustração retratando o personagem histórico.
Pero Vaz de Caminha está na origem do ‘jeitinho brasileiro’
Estaria ali encaixado na Carta ao rei de Portugal um DNA do jeitinho brasileiro, e que nos legou por escrito Pero Vaz de Caminha? O próprio ‘jeitinho’ não seria uma espécie de corrupção incorporada ao cotidiano do brasileiro?
Afinal, pedir ‘um favor’ para passar um processo na frente dos outros não seria uma forma de corrupção? Diminuir a velocidade do carro apenas onde está o radar, e aumentar a velocidade logo em seguida, não é uma forma de corrupção? Está, no cotidiano, a Corrupção como Tema de Redação Enem.
Cultura e Corrupção
Na cultura popular brasileira o tema da corrupção está registrado em diversas preciosidades. Na década de 1980, em Brasília, Renato Russo e os companheiros dos grupos Legião Urbana, Aborto Elétrico, e Capital Inicial já criticavam a corrupção dos políticos. Veja nesta estrofe genial da canção ‘Que país é este?’:
Nas favelas / No Senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a Constituição
No rio de Janeiro, em 1916, no começo do século 20, o sambista Donga cantava a corrupção policial, que se fazia presente na ‘vista grossa’ às casas de jogo clandestinas, os Cassinos, então proibidos. O trecho é do samba ‘Pelo telefone’
O chefe da polícia / Pelo telefone / Manda me avisar / Que na Carioca tem uma roleta / Para se jogar
Na literatura, muito antes do samba, Machado de Assis registrou a corrupção política, policial e dos cartórios em geral no clássico Memórias de um sargento de milícias. O livro é pura corrupção nos tempos da transição do Império para a República. E, o que não dizer da escravidão no Brasil, se não foi este o mais grave episódio de corrupção em nossa história?
Durante décadas o Império Brasileiro ‘fazia de conta’ que tinha colocado fim ao tráfico de escravos e que estaria prestar a encerrar o ciclo escravagista no país. Mas, era puro jogo de cena para enganar a pressão da Inglaterra contra a escravidão. Vem daí a expressão “para inglês ver”, que significa apenas fingir que se está fazendo algo para falsamente enganar outrem. É pura corrupção.
Marchinhas de Carnaval e a Corrupção
E, agora em 2019, 2018, 2017, 2016 e 2015, surgiram nas marchinhas de carnaval duas canções que tratam de novas dimensões do que a população identifica como relacionadas à corrupção. Tanto o ‘Japonês da Federal’ quanto o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro viraram temas de músicas satirizando o que seriam práticas de corrupção aos olhos do senso comum do brasileiro.
No carnaval de 2019, com apenas dois meses de Jair Bolsonaro no poder as ruas já criavam sátiras sobre funcionários de gabinetes dos membros da família no Congresso Nacional ou Assembléias Legislativas, fazendo blagues sobre funcionários que devolviam parte do dinheiro para subsidiar atividades políticas:
Na marchinha A culpa é do PT estão lá estas estrofes:
Melhor já ir preparando o que fazer / Vão acabar com a lei Rouanet
Traz a Damares, traz o Mourão / Que traz seu filho pra mamar no tetão
Prepara um suco de laranja pro Queiroz / Que traz um dinheirinho para todos nós
Na marchinha do ‘Japonês da Federal‘ estão as seguintes estrofes:
Ai meu Deus / Me dei mal / Bateu na minha porta / O Japonês da Federal
Com o coração na mão / Eu respondi: o senhor está errado! / Sou Trabalhador… / Não sou lobista, senador ou deputado!
E, na marchinha ‘Não é nada meu’, que satiriza as sucessivas negativas do ex-presidente Lula em relação ao patrimônio e aos amigos, estão os seguintes trechos:
Não é nada meu / Não é nada meu / Excelência eu não tenho nada / Isso é tudo de amigos meus
E o tríplex na praia me diga de quem é? / É de um amigo meu / E o sítio de Atibaia? / É de um amigo meu / E aquele jatinho que o senhor usa? / É de um amigo meu / E aquele filho milionário? / Excelência, ele também não é meu
A Corrupção no dia a dia
O tema da corrupção, portanto, não se restringe apenas aos aspectos da corrupção política e financeira, como nos episódios do Mensalão e da Petrobrás. É claro que choca a todos os brasileiros ver os últimos três presidentes da república (Michel Temer, Dilma Roussef e Luís Inácio Lula da Silva) envolvidos em episódios típicos de tentativas de obstrução de justiça como tática de postergação ou defesa entre outros crimes diretos e muito graves. A corrupção pode ser encontrada em situações para as quais nunca paramos para pensar.
Veja na lista abaixo o que você marcaria como corrupção:
- ( ) Fumar em recinto fechado, onde se encontram outras pessoas não fumantes;
- ( ) Dar ‘um cafezinho’ ao guarda de trânsito para ele não aplicar uma multa;
- ( ) Receber ‘o cafezinho’ para não aplicar uma multa de trânsito;
- ( ) Encontrar uma carteira perdida na rua e ficar com o dinheiro que estiver lá dentro;
- ( ) Comprar ou vender cigarros ou bebidas alcoólicas para menores de idade;
- ( ) Atravessar a rua sem esperar ‘o sinal verde’ para os pedestres;
- ( ) Jogar a guimba (toco) do cigarro na calçada ou na sarjeta;
- ( ) Receber um real a mais no troco da padaria, e fazer de conta que não viu;
- ( ) Uma pessoa saudável, com pressa, estacionar ‘rapidinho’ em vagas para idosos ou deficientes;
- ( ) Furar a fila de comprar pipoca no cinema, pois encontrou um amigo já lá na frente, e que pode comprar também a sua;
- ( ) Postar nas redes sociais informações falsas ou levianas que podem denegrir outras pessoas.
Se você marcou algumas dessas alternativas como um episódio de corrupção, então a pergunta passa a ser: A corrupção estaria no DNA do brasileiro?
Qual a diferença entre um político que frauda as contas públicas, que assalta os cofres da Petrobrás e envia fortunas para uma conta secreta no exterior, para um cidadão comum que embolsa o ‘um real a mais’ no troco da padaria? Como você classificaria a diferença?
A Corrupção na Política
As investigações, as descobertas, os julgamentos já concluídos e as investigações ainda em apuração envolvendo episódios de corrupção recentes no Brasil estão aí para mostrar que as respostas às perguntas iniciais deste post são todas verdadeiras.
Basta falar em ‘corrupção’ que logo vêm à cabeça os episódios do Mensalão (imagem abaixo), das fraudes na Petrobrás, das aquisições e reformas de locomotivas e vagões de trem e metrô em São Paulo, das obras da Copa do Mundo (futebol), desvios de salários de funcionários de gabinetes de parlamentares, funcionários fantasmas e tantos outros como negociações e pagamentos de propina para aprovação de Medidas Provisórias na Presidência da República e no Congresso Nacional.
Não há exclusividade de corrupção a nenhum partido político. O Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Progressista (PP), e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) estão no foco dos maiores escândalos de gestão pública nos últimos anos, mas os partidos menores ou nanicos não ficam atrás neste triste quesito.O PSL, partido pelo qual foi eleito Jair Bolsonaro em 2019, já foi apelidado no Congresso Nacional de Partido Só de Laranjas no início de 2019. O apelido surgiu em função de uso de candidatas “laranjas”, sem expressão política apenas para desvio de recursos do Fundo Partidário destinados a candidatas da cota feminina definida em lei.
O Brasil está com a corrupção na ponta da língua no ano de 2019. 2018 foi o ano da condenação e prisão de Luís Inácio Lula da Silva. 2017 tivemos o auge das delações premiadas da Petrobrás. O episódio mais extremo em 2016 foi o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, acusada de corromper a contabilidade das contas públicas. Não era uma acusação de apropriação pessoal, mas de conduta inapropriada com as contas públicas, levando o país ao desequilíbrio, inflação, recessão e desemprego.
Com a posse do sucessor de Dilma, Michel Temer, o assunto não saiu da pauta, e continuou em evidência em 2017 e 2018, quando diversos ministros indicados para o governo Temer tiveram que pedir demissão após terem os nomes envolvidos em delações premiadas nas investigações de corrupção envolvendo a Petrobrás.
E, em maio de 2017, o próprio presidente Temer foi envolvido no mar de lama com a Colaboração Judicial Premiada dos empresários dos frigoríficos JBS, que revelaram ter gravações com o próprio presidente da república apoiando ou promovendo processos de flagrante corrupção.
Em 2018 o ex-presidente Lula foi condenado por crime de corrupção a 12 anos e 1 mês de prisão. E, mesmo após a sentença ter sido confirmada por unanimidade pelos desembargadores do Tribunal Regional Federal (corte de segunda instância) ele não foi preso. Ganhou um ‘salvo-conduto’ temporário do Supremo Tribunal Federal, e virou um condenado em liberdade por duas semanas.
Ao final deste período o STF voltou ao tema e finalmente reconheceu como legítima a condução processo em que o ex-presidente fôra condenado, e concluindo pela legitimidade da sentença condenatória, autorizando a prisão do apenado. Foi o primeiro ex-presidente do país condenado em processo criminal.
Afinal, quem estaria com a razão no caso recente do Impeachment?
O Impeachment da ex-presidente Dilma Roussef foi uma reação da sociedade ao ‘golpe’ da ex-presidente, que se elegeu com uma lista de promessas que logo a seguir jogou fora? Neste caso, a corrupção política teria sido praticada pela candidata-presidente.
Mas, por outra dimensão, ela se apresentava durante o processo de afastamento como vítima de um golpe da sociedade contra ela, porque as pessoas foram às ruas pedindo mudanças e a saída dela do poder. Neste caso a corrupção estaria sendo praticada pela sociedade e pelo Congresso Nacional, usurpando a cadeira da presidência da república?
Nas investigações do escândalo da Petrobrás ao longo de 2017 surgiram evidências de corrupção no financiamento da campanha da chapa dos então candidatos em 2014 Dima Roussef e Michel Temer, com pagamentos a fornecedores feitos no Brasil e no exterior com dinheiro desviado de corrupção. O processo de cassação do registro da chapa da candidatura está em tramitação final no Tribunal Superior Eleitoral.
O ex-presidente Lula ‘não sabia de nada’ sobre os escândalos de corrupção que os partidos políticos da sua base de apoio e os diretores da Petrobrás indicados por eles e avalizados por Lula praticavam na Petrobrás. Lula também ‘não sabia de nada’ sobre compras de cozinhas de luxo, reformas em apartamentos e sítios de lazer direcionados para o uso dele e de sua família. Em depoimento na operação Lava-Jato ele disse que isso era assunto da dona Marisa, sua já falecida esposa.
E, Michel Temer, em maio de 2017, admitiu que de fato teve encontros reservados com os donos dos frigoríficos JBS (Friboi), mas que não teria se manifestado em favor de corrupção. Mas, um assessor direto do presidente Temer foi apanhado em flagrante pela Polícia Federal recebendo mala de dinheiro da JBS.
Veja a Polêmica da corrupção na TV com personagens famosos
O ator Ary Fontoura, numa entrevista no Programa do Faustão, disse sobre o Impeachment que ‘Golpe foi mentir para se eleger, e depois fazer tudo ao contrário’. Por outro lado, o também ator José de Abreu, que defendeu Dilma Roussef durante o Impeachment, despejou uma cusparada em um casal que apoiava o impeachment durante um jantar em São Paulo, acusando que ‘golpe’ seria derrubar a então presidente. Quem estaria com a razão? A Corrupção rende um bom Tema de Redação do Enem!
Onde estaria ‘a corrupção’ nos epísódios ligados ao Impeachment? Onde estaria ‘a corrupção’ no escândalo da Petrobrás? Onde estaria ‘a corrupção’ nas fraudes dos fundos de pensão dos funcionários dos Correios, da Caixa Econômica Federal, e dos funcionários da própria Petrobrás? Onde estaria ‘a corrupção’ nas denúncias de fraudes nos contratos de aquisição e manutenção de locomotivas e vagões no Metrô de São Paulo?
Assista agora um vídeo sobre a política no Brasil hoje, com nosso professor de Filosofia Alan Ghedini.
É hora de você ligar as antenas e começar a fazer redações com o tema da corrupção! Veja a seguir como estruturar a Introdução, o Desenvolvimento, e a Conclusão de uma Redação Enem Nota 1000:
Quatro passos para a Redação Enem Nota 1000. Veja! |
1 – A Estrutura da Redação |
2 – Como fazer a Introdução da Redação |
3 – Como defender um ponto de vista |
4 – Três técnicas para fazer uma boa Conclusão |