Primeira Geração Modernista – Literatura para o Enem

Veja como aconteceu a Semana de Arte Moderna e quais foram as principais características, obras e expoentes da Primeira Geração do Modernismo no Brasil.

O Modernismo foi um movimento que congregou as influências das vanguardas europeias da virada do século XX. Neste post, vamos apresentar as principais características, obras e autores da Primeira Geração Modernista, que nasceu com a Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922.

Um movimento de vanguarda

A Semana de Arte Moderna inaugurava um movimento de vanguarda nacional, que combinava as mais diferentes formas estéticas, a fim de esculpir uma arte de temática legitimamente brasileira. Desse modo, tentava romper com as escolas literárias europeias como o Simbolismo, Parnasianismo e o Realismo.

Contudo, essa nova escola não negaria a história e a tradição literária, em suas muitas técnicas e estilos, mas admitiria todas – modernas e eruditas – indistintamente. Assim pregava o poeta Mário de Andrade, um dos principais artistas do movimento, em seu “Prefácio Interessantíssimo”.

A Intertextualidade, portanto, é uma das características chave do Modernismo. Esse Prefácio, publicado em seu livro de poemas “Paulicéia Desvairada” (1922) seria um dos Manifestos desse movimento, tendo sido apresentado durante a Semana de Arte Moderna.

O processo de subverter a barreira de estilo e técnica seria chamado ainda de “Antropofágico”. O tema foi mais tarde discutido no “Manifesto Antropófago” (1928), de Oswald de Andrade.

Jornalistas, poetas, prosadores, dramaturgos, pintores e escultores estavam certos de que, finalmente, era preciso “ver com olhos livres”, como dito posteriormente por Oswald de Andrade em “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” (1924). Esse ciclo artístico marcaria a chegada da modernidade ao Brasil.

Na origem do Modernismo, é fundamental destacar a importância de Oswald de Andrade. O poeta e dramaturgo, filho da alta burguesia paulista, fundou o semanário “O Pirralho”(1911), que continha criticas, charges, poemas irônicos,sátiras, caricaturas e outras irreverências.

primeira geração do modernismo
À esquerda, foto dos artistas da Semana de 22, com Mário de Andrade no centro; à direita, o cartaz.

Fundamental nesse período de evolução o poeta Juó Bananére, uma das grandes influências de Oswald, que usava o português macarrônico da elite paulistana para satirizar políticos e alguns ícones da literatura, como o parnasiano Olavo Bilac. Oswald mais tarde visitaria a Europa e de lá traria a influência da vanguarda do Futurismo do poeta Filippo Tommaso Marinetti.

Características da Primeira Geração do Modernismo

Contexto e referências da Primeira Geração Modernista

A maneira de agregar estéticas e estilos do Modernismo estão em sintonia com o espírito e a ebulição de informações nas sociedades do início do século XX. A cidade de São Paulo, um dos principais centros urbanos do país, crescia vertiginosamente. De 1890, quando tinha por volta de 60 mil habitantes, passaria a ter na primeira década do século XX cerca de 400 mil.

Essa mudança seria naturalmente acompanhada pela construção de obras de infra-estrutura e grandes edifícios, patrocinadas pela burguesa cafeeira de então.

Só para se ter uma ideia, a Semana de 22 foi realizada poucos meses antes da primeira transmissão oficial de uma rádio brasileira, feita a partir de uma antena instalada no alto do corcovado, no Rio de Janeiro. O contexto de mídia e excesso de informação – que cresceu exponencialmente com a internet – começou com o que o filósofo Marshall Macluhan chama de revolução elétrica, marcado pelo surgimento de rádio e da televisão.

O que se veria após a Semana de 22 foi um período de descentramento, pautado na visão anárquica das artes, que questionava os seus padrões e valores estéticos, sociais e mercadológicos, profundamente alterados com o aparecimento da Indústria Cultural.

abaporu

Dentre as referências do Modernismo, algumas influências estéticas da época captavam essa mesma mudança, como as vanguardas europeias do cubismo, do poeta Guillaume Appolinaire e do pintor Pablo Picasso, o expressionismo – trazido ao Brasil pela pintora Anita Malfatti, uma das integrantes e idealizadoras da Semana – também pelo surrealismo de André Breton e pela pintura de Salvador Dali e Matisse.

Veja na imagem ao lado o Abaporu, famoso quadro que sintetiza a obra de Anita Malfatti. A obra pertence hoje a um museu particular na Argentina.

Principais autores da primeira fase modernista

Mário de Andrade (1893-1945)

Mário de Andrade, pianista de formação, com muitos livros sobre a formação da música brasileira e, além disso, literato de rica erudição, ocupou diversos cargos pela Secretaria de Cultura de São Paulo e foi responsável  pela criação da maior biblioteca do Estado, prédio que hoje carrega o nome do poeta.

Dentre suas principais obras estão os seus poemas – marcados pela musicalidade e os temas cotidianos e urbanos – e também romances e textos ensaísticos. Destaque para o romance “Macunaíma”: romance que conta a história do índio Macunaíma em suas aventuras pela cidade de São Paulo, realizando peripécias com os seus irmãos e disputando com o gigante Piamã.

A linguagem pitoresca e multifacetada – como um quadro cubista sobre a cidade e a cultura nacional, repleto das mais distintas referências populares e da tradição folclórica – marca esse que é um dos grandes romances do Modernismo brasileiro.

Manuel Bandeira (1886-1968)

O poeta Manuel Carneiro de Souza Filho, conhecido como Manuel Bandeira, cedo precisou interromper os estudos de Engenharia por conta da tuberculose, tendo ido para a Suíça atrás de tratamento. Nesse período, conheceu o poeta Paul Éluard e outros artistas que vivenciavam a modernidade o período heroico das Vanguardas.

De volta ao Brasil, o poeta passaria a colaborar em jornais e revistas, até estar ligado ao movimento modernista. Seus poemas “Poética” e “Os Sapos” seriam lidos nas escadarias do Teatro Municipal durante a Semana de 22, e foram também importantes para a definição do estilo desse movimento.

A poesia de Manuel Bandeira, inicialmente metrificada e rígida, marcou-se pelo poema em prosa de tom cotidiano, carregado de sentimentalismo e emotividade, mas sem abandonar a ironia e o humor. Suas principais obras são “A Cinza das Horas” (1917), “Libertinagem” (1930) e “Estrela da Manhã” (1936).

Para saber mais sobre a Primeira Geração do Modernismo, assista aos vídeos abaixo!
Agora faça esses exercícios para fixar o conhecimento:

(ENEM – 2013)

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de tudo. 27 set.2011 a 29 jan. 2012. São Paulo: Prof. Gráfica. 2012. (Foto: Reprodução)

O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de que a brasilidade está relacionada ao futebol. Quanto à questão da identidade nacional, as anotações em torno dos versos constituem

a) direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais.
b)forma clássica da construção poética brasileira.
c)rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d)intervenções de um leitor estrangeiro no exercício de leitura poética
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras substitutivas das originais.

Resposta: Alternativa “a”. As anotações nos versos do poema possibilitam direcionamentos possíveis para uma leitura crítica de dados histórico-culturais. Transformando o que seria uma nota sobre resultados de jogos de futebol, o autor forma um poema cheio de humor fazendo “números como versos”. Ao pretender instalar as bases da “brasilidade”, os Modernistas destacaram alguns de nossos ícones populares mais representativos. O humor e a sátira são ferramentas empregadas para subverter a ordem burguesa e a presença

(ENEM 2012)

O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras…
As primaveras do sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal…
Intermitentemente…
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo…
Cantabona! Cantabona!
Dlorom…
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é

a)abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal” que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.
c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.
e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas.

Resposta: Alternativa “d”. Em O Trovador, a problemática em relação à questão da identidade nacional é resolvida pela fusão da oposição selvagem x civilizado. Lembrando, mais uma vez, que um dos temas mais importantes para o modernismo, sobretudo para a primeira fase modernista, foi a identidade nacional, especialmente na obra de Mário de Andrade. Poderia até ser pensado na alternativa ‘a’, ma o carnaval não é mais exclusividade do Brasil do que o índio tupi.

(ENEM – 2011)

Estrada
Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo mundo é igual. Todo mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.
BANDEIRA, M. O ritmo dissoluto. Rio de Janeiro: Aguilar, 1967.

A lírica de Manuel Bandeira é pautada na apreensão de significados profundos a partir de elementos do cotidiano. No poema Estrada, o lirismo presente no contraste entre campo e cidade aponta para

a) o desejo do eu lírico de resgatar a movimentação dos centros urbanos, o que revela sua nostalgia com relação à cidade.
b) a percepção do caráter efêmero da vida, possibilitada pela observação da aparente inércia da vida rural.
c) a opção do eu lírico pelo espaço bucólico como possibilidade de meditação sobre a sua juventude.
d) a visão negativa da passagem do tempo, visto que esta gera insegurança.
e) a profunda sensação de medo gerada pela reflexão acerca da morte.

Resposta: Alternativa “b”. A distância do ambiente urbano, visto pelo eu lírico como rígido e insosso, para o colorida próprio do ambiente rural (que remonta a infância do poeta ) é condição para a apreciação do tempo.

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