Festival de Parintins 2025: o que a maior festa folclórica da Amazônia diz sobre a cultura brasileira

Entenda o Festival de Parintins: origem, disputa entre bois, impacto cultural e como ele pode cair no Enem.

 Foto: Mauro Neto/Secom

Realizado anualmente no município de Parintins, no Amazonas, o Festival de Parintins é uma das maiores manifestações culturais do Brasil. Durante três noites, o Bumbódromo — arena em formato de cabeça de boi com capacidade para 25 mil pessoas — se transforma no palco da disputa entre os bois Caprichoso e Garantido, em um espetáculo que reúne música, dança, alegorias e narrativas inspiradas na Amazônia.

Em 2025, o festival atraiu mais de 120 mil pessoas e reforçou seu papel como espaço de discussão e visibilidade para temas atuais. O Boi Caprichoso levou à arena o tema “É Tempo de Retomada”, com foco na valorização dos saberes ancestrais e da sustentabilidade. Já o Garantido apostou em “Boi do Povo, Boi do Povão”, reafirmando sua ligação com as raízes populares da festa.

Neste texto, você confere a origem do festival, a estrutura das apresentações e os símbolos que diferenciam cada boi — além de entender por que essa celebração se consolidou como um dos principais patrimônios culturais do país.

Qual a origem do Festival de Parintins?

O Festival de Parintins tem como base o boi-bumbá, manifestação cultural inspirada no bumba-meu-boi nordestino. A tradição chegou à região amazônica no início do século XX, trazida por migrantes maranhenses durante o Ciclo da Borracha. Com o tempo, ganhou características próprias e se consolidou na cidade de Parintins.

O enredo central do boi-bumbá é o chamado “auto do boi”, que narra a história de Mãe Catirina, grávida, que deseja comer a língua do boi preferido do patrão. Para satisfazê-la, seu marido, Pai Francisco, mata o animal. Descoberto, é ameaçado de morte, mas o boi é ressuscitado com a ajuda de um pajé. A narrativa é representada em linguagem teatral, com músicas, danças e personagens fixos.

Em Parintins, o auto do boi foi adaptado ao contexto amazônico, incorporando elementos da cultura indígena e regional. A rivalidade entre os bois Garantido e Caprichoso surgiu em 1913, a partir de apresentações informais nas ruas da cidade. O festival foi oficializado em 1965 por um grupo de amigos da Juventude Alegre Católica (JAC), com o objetivo inicial de arrecadar fundos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo. No ano seguinte, os dois bois participaram juntos pela primeira vez, marcando o início da competição como é conhecida hoje.

Em 1975, a Prefeitura de Parintins passou a organizar oficialmente o evento, garantindo mais recursos e estrutura. Em 1988, foi inaugurado o Centro Cultural e Desportivo Amazonino Mendes — o Bumbódromo — projetado em formato de cabeça de boi, com capacidade para cerca de 25 mil pessoas. Desde então, o festival passou por uma profissionalização gradual, ampliando seu alcance sem perder o vínculo com as tradições locais.

Garantido x Caprichoso

(Foto: Portal AM POST)

A disputa entre os bois Garantido e Caprichoso é o eixo central do Festival de Parintins. Cada agremiação representa um conjunto distinto de símbolos, cores e tradições. O Garantido é identificado pelo vermelho e branco; o Caprichoso, pelo azul e branco. Durante o festival, a cidade se divide entre as torcidas, e essa separação se reflete inclusive na organização do espaço físico do Bumbódromo: as arquibancadas são divididas entre os dois lados, e os torcedores evitam até mencionar o nome do boi rival, referindo-se a ele como “o contrário”.

A seguir, um resumo das principais características que diferenciam os dois bois:

CaracterísticaBoi GarantidoBoi Caprichoso
CoresVermelho e brancoAzul e branco
Símbolo na testaCoração vermelhoEstrela (antes, um “diamante”)
Formato do chifrePonta virada para frente (inspirado no Nelore)Virado para trás (inspirado no Zebu)
ApelidosBoi da Promessa, Boi do Povão, Brinquedo de São João, Eterno CampeãoTouro Negro, Diamante Negro
Origem das coresLigações com a umbanda e a figura de Xangô/São João BatistaInfluência da Marinha e da Marujada de Bragança; possível referência às Cruzadas
Tema em 2025“Boi do Povo, Boi do Povão”“É Tempo de Retomada”

Cada elemento visual e simbólico carrega um significado. O chifre, por exemplo, remete à raça de gado que inspira o design do boi, enquanto as cores e os apelidos estão associados a aspectos históricos, religiosos e culturais específicos. A construção identitária de cada agremiação é fruto de múltiplas influências — da religiosidade popular à história local, passando por vínculos familiares e tradições comunitárias.

Como funcionam as apresentações no Bumbódromo

(Foto: Sec/AM)

A cada noite, os bois Garantido e Caprichoso têm entre duas e duas horas e meia para realizar suas performances. O espetáculo é estruturado a partir da narrativa do “auto do boi”, mas se desdobra em diversos quadros temáticos que abordam lendas amazônicas, rituais indígenas, mitos e questões contemporâneas.

O palco é ocupado por alegorias de grande porte, que se movimentam mecanicamente e integram a encenação. As coreografias envolvem centenas de dançarinos, com figurinos elaborados e uso de recursos cênicos, sonoros e visuais. As apresentações são acompanhadas por toadas — canções que narram as histórias e marcam o ritmo da performance. Em média, cada boi apresenta cerca de 30 toadas por edição, muitas delas inéditas, lançadas previamente em álbuns ou nas plataformas digitais.

A estrutura da apresentação é guiada por personagens fixos, que representam figuras simbólicas dentro da narrativa:

  • Apresentador: responsável por conduzir a performance e apresentar os elementos do boi. Sua atuação é avaliada pela dicção, presença de palco e canto.
  • Levantador de toadas: cantor principal das músicas, avaliado por técnica vocal, afinação e capacidade de envolver a plateia.
  • Amo do boi: figura que representa o dono da fazenda na lenda, cria versos que desafiam o boi adversário.
  • Cunhã-poranga: personagem inspirada na figura feminina indígena, representa beleza, força e domínio da dança.
  • Sinhazinha da fazenda: filha do Amo do Boi, ligada à herança cultural europeia na narrativa.
  • Porta-estandarte: dançarina responsável por apresentar o símbolo oficial do boi.
  • Pajé: figura central no ritual indígena e na cena da ressurreição do boi, geralmente apresentada no fim do espetáculo.
  • Galera: o público de cada boi, que interage diretamente com a performance e é considerado parte do espetáculo.

Os critérios de avaliação da disputa envolvem 21 itens, organizados em três blocos: desempenho dos itens individuais, aspectos cênicos e coerência temática. São analisados quesitos como originalidade, harmonia, sincronia, desenvolvimento do enredo e impacto visual.

A complexidade da apresentação — que envolve desde a construção das alegorias até a execução das coreografias — exige preparação ao longo de todo o ano, envolvendo artistas, técnicos, músicos, coreógrafos e comunidades inteiras.

Projeto ambiental “Amazônia de Pé”

Uma das ações de maior destaque do Festival de Parintins em 2025 foi a adesão dos bois Caprichoso e Garantido à campanha “Amazônia de Pé”, voltada à proteção ambiental da floresta amazônica. A proposta da iniciativa é coletar 1,5 milhão de assinaturas em apoio a um Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) que determina a destinação de terras públicas não destinadas na Amazônia Legal exclusivamente para a conservação ambiental.

A união entre os bois — tradicionalmente rivais — teve forte apelo simbólico. Durante o festival, ambas as agremiações promoveram ações para estimular a coleta de assinaturas entre torcedores e visitantes, aproveitando o alto fluxo de público. A campanha também foi divulgada nas redes sociais e nos canais oficiais dos bois.

Como forma de incentivo à mobilização popular, a organização da campanha estabeleceu premiações: a agremiação que coletasse mais assinaturas receberia um prêmio de R$ 40 mil, e o torcedor que contribuísse com o maior número de assinaturas ganharia R$ 6 mil, além de um pacote VIP para o festival de 2026.

Como o Festival de Parintins pode te ajudar no Enem?

Entender o Festival Folclórico de Parintins é entrar em um universo cultural que conecta várias áreas do conhecimento cobradas no Enem. Essa festa reúne história, geografia, sociologia, arte e literatura, oferecendo uma visão interdisciplinar importante para o exame.

As histórias dos bois-bumbás trazem mitos, lendas e tradições indígenas e caboclas, mostrando a relação entre o homem, a natureza e o patrimônio cultural brasileiro. A rivalidade entre o Garantido e o Caprichoso é um ótimo exemplo para estudar temas como polarização social, identidade cultural e manifestações artísticas que envolvem comunidades inteiras.

Além disso, o impacto econômico e turístico do festival pode ser abordado em questões de geografia e economia. Já a cenografia, os figurinos e as alegorias oferecem material para análises de artes visuais e estética.

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