O que é metalinguagem, e exemplos de textos metalinguísticos

Sempre que determinada linguagem falar dela mesma, estamos diante de uma função metalinguística. Nesta aula, você vai aprender tudo sobre metalinguagem e arrasar na interpretação de textos da prova do Enem e demais vestibulares!

Metalinguagem é um recurso literário utiliado não só em textos ou livros mas também em produções cinematográficas. A origem do prefixo “meta” vem de “metá”, que em grego significa “no meio de”, “entre”, “com”. Assim, estamos falando da linguagem “com” a linguagem, ou seja, da linguagem através da linguagem.

Em conclusão podemos dizer que trata-se do fenômeno que acontece quando determinada linguagem volta-se para ela mesma. Um exemplo de metalinguagem seria quando um autor escreve um poema narrando as dificuldades de redigir o poema. Se eu escrevo, por exemplo, uma crônica que fale das dificuldades de se escrever uma crônica, estou utilizando a metalinguagem.

Na aula de hoje você vai aprender um pouco mais sobre metalinguagem e ver alguns exemplos. É pra gabaritar no Enem, no Encceja, e nos vestibulares.

O que é metalinguagem

A metalinguagem nada mais é do que a preocupação do emissor totalmente voltada ao próprio código que está sendo utilizado. Isso quer dizer que o código é o tema da mensagem ou, então, ele é usado para explicar sobre ele mesmo. Compliquei ainda mais? Não se preocupe, vai ficar bem fácil de entender.

O código, no texto verbal, é a língua. No momento em que usamos uma mensagem verbalizada para explicar a língua, usando a própria linguagem, ocorre a metalinguagem. Observe, em seu cotidiano, como isso é feito várias e vária vezes: em conversas de caráter informal ou até mesmo durante suas aulas!

Há momentos em que questionamos nosso interlocutor, ou seja, aquele que nos está emitindo uma mensagem. “O que isso quer dizer?” ou “Você pode me explicar outra vez?”Exemplo de metalinguagemExemplo de metalinguagem: um quadrinho em que um personagem fala sobre o balão, forma característica da linguagem dos quadrinhos.

São perguntas que fazemos no nosso dia a dia e, em seguida, vêm respostas que serão, seguramente, textos metalinguísticos. Eles são introduzidas através de termos explicativos, como “isto é” ou “ou seja”, que frequentemente introduzem textos com a função da metalinguagem.

Por usarem as palavras para explicar o significado de outras palavras, os dicionários e a gramáticas também exercem a função metalinguísticas em seus textos. Assim, no decorrer de nossa vida como estudante, é habitual a utilização da função metalinguística da linguagem. Por exemplo, quando escrevemos análises textuais.

Resumo sobre Metalinguagem

Antes de seguir com a aula completa, veja esse divertido resumo com a professora Camila Zuchetto, do canal do Curso Enem Gratuito,  que explica rapidinho o que é metalinguagem:

Muito bom este resumo da professora Camila. Em outras palavras, sempre que determinada linguagem falar dela mesma, temos a metalinguagem.

Exemplos de metalinguagem

A fim de que você entenda melhor, darei outros exemplos, bastante práticos: filmes que têm como tema o próprio cinema, uma peça teatral que tem por tema o teatro ou um poema que fala sobre a construção da poesia. Portanto, até mesmo um tutorial no YouTube sobre como editar um vídeo é um exemplo de metalinguagem. Agora ficou bem claro, não é mesmo?

Um bom exemplo de metalinguagem nas artes é a obra “Drawing hands” (“Desenhando mãos”), de Maurits Cornelis Escher. Veja em seguida:Desenhando mãos - metalinguagemDisponível em http://www.arteeblog.com. Acesso em: 12 mar. 2020.

A técnica usada é a litografia, processo de reprodução que consiste em imprimir sobre papel, por meio de prensa. Dizem que o artista usou a sua própria mão direita como modelo para ambas as mãos representadas na gravura. Portanto, é um desenho mostrando o ato de desenhar.

Na literatura é muito comum encontrar textos que dialogam com outros textos, a fim de reafirmar o que já foi dito ou, então, para indagar ou fazer paródias de textos escritos em outros momentos.

Em seguida, leia estes dois poemas de Carlos Drummond de Andrade e perceba o uso da metalinguagem:

Poema que aconteceu

Nenhum desejo neste domingo

Nenhum problema nesta vida

O mundo parou de repente

Os homens ficaram calados

Domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema

Não sabe que está escrevendo

Mas é possível que se soubesse 

Nem ligasse.

Poesia

Gastei uma hora pensando um verso

Que a pena não quer escrever.

No entanto ele está cá dentro

Inquieto, vivo.

Ele está cá dentro

E não quer sair.

Mas a poesia deste momento

Inunda minha vida inteira.

Análise do poema metalinguístico

Observe que os poemas são construídas a partir de olhares diferentes. No primeiro, vemos um poema que aconteceu, sem grandes motivações, apenas escrito em um domingo, certamente como muitos, em que nada acontece. Em contrapartida, no segundo poema, o poeta tem a ideia de escrever um poema, mas não consegue construí-lo.

Assim, nos deparamos com a função metalinguística nos dois poemas de Drummond: poesia para falar de poesia!

Exercícios sobre metalinguagem

Por fim, responda às questões sobre a função metalinguística e entenda como a metalinguagem cai no Enem e nos vestibulares.

1- (ENEM 2014)

O exercício da crônica

Escrever  crônica é  uma  arte  ingrata. Eu  digo  prosa  fiada, como faz  um cronista;  não a prosa de  um ficcionista, na qual este  é   levado  meio a  tapas pelas  personagens e  situações  que, azar dele, criou  porque quis.  Com um prosador do  cotidiano, a coisa  fia  mais fino. Senta-se  ele diante de  uma  máquina, olha através da  janela e  busca  fundo em  sua  imaginação  um assunto  qualquer, de  preferência colhido no  noticiário matutino, ou  da  véspera, em  que,  com  suas  artimanhas peculiares, possa  injetar um sangue  novo.

Se nada  houver, restar-lhe o recurso de  olhar em torno e  esperar que, através de  um processo associativo,  surja-lhe de  repente a  crônica, provinda dos   fatos e  feitos de  sua  vida emocionalmente despertados pela concentração.  Ou  então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de  assunto, já bastante  gasto,  mas do  qual,  no  ato de escrever,  pode surgir  o   inesperado.

(MORAES,  V. Para  viver um grande  amor:  crônicas e  poemas. São  Paulo:  Cia das  Letras, 1991).

Predomina nesse  texto a  função da  linguagem que se  constitui

a)  nas  diferenças  entre  o cronista e  o  ficcionista.

b) nos  elementos  que servem de  inspiração ao cronista.

c) nos assuntos  que  podem ser  tratados em  uma crônica.

d) no  papel da  vida do cronista no  processo de  escrita da  crônica.

e) nas  dificuldades de se  escrever uma crônica por meio de  uma crônica.

2- (ENEM/2016)    

Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo uma outra não prevista.

LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos, valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato de o texto

a) ressaltar a importância da intertextualidade.

b) propor leituras diferentes das previsíveis.

c) apresentar o ponto de vista da autora.

d) discorrer sobre o ato de leitura.

e) focar a participação do leitor.

3- (ENEM/2016)    

Pedra sobre pedra

Algumas fazendas gaúchas ainda preservam as taipas, muros de pedra para cercar o gado. Um tipo de cerca primitiva. Não há nada que prenda uma pedra na outra, cuidadosamente empilhadas com altura de até um metro. Engenharia simples que já dura 300 anos. A mesma técnica usada no mangueirão, uma espécie de curral onde os animais ficavam confinados à noite. As taipas são atribuídas aos jesuítas. O objetivo era domar o gado xucro solto nos campos pelos colonizadores espanhóis.

FERRI, M. Revista Terra da Gente, n. 96, abr. 2012.

Um texto pode combinar diferentes funções de linguagem. Exemplo disso é Pedra sobre pedra, que se vale da função referencial e da metalinguística. A metalinguagem é estabelecida

a) por tempos verbais articulados no presente e no pretérito.

b) pelas frases simples e referência ao ditado “não ficará pedra sobre pedra”.

c) pela linguagem impessoal e objetiva, marcada pela terceira pessoa.

d) pela definição de termos como “taipa” e “mangueirão.

e) por adjetivos como “primitivas” e “simples”, indicando o ponto de vista do autor.

4- Observe o quadro de Paul Gauguin – Van Gogh pintando girassóis:

metalinguagem

Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno presente na literatura e nas artes em geral. O quadro “Van Gogh pintando girassóis”, de Paul Gauguin, é um exemplo de metalinguagem por quê:

a) destaca a qualidade do traço artístico

b) mostra o pintor no momento da criação

c) implica a valorização da arte tradicional

d) indica a necessidade de inspiração concreta

e) destaca as cores presentes no quadro

Gabarito:

  1. E
  2. D
  3. D
  4. B

Analice Andrade Anastacio

O texto foi escrito pela professora Analice, formada em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp. Atualmente é mestranda em Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, professora de português na rede particular e colaboradora do Blog do Enem.
Categorias: Apostilas Enem Gratuitas, Cai no Enem, Curso Enem, Linguagens, Literatura
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