Karl Marx: veja o que é capitalismo e o materialismo histórico

O capitalismo se fortaleceu com o pensamento mercantilista do século XIX e cresceu junto da revolução industrial. Confira os conceitos, análise e proposições de Karl Marx na crítica ao capitalismo e sua proposta da luta de classes em direção ao comunismo.

Karl Marx (1818-1883) é um dos clássicos pensadores da Sociologia, ao lado de Max Weber e Émile Durkheim. Juntos debateram as mazelas do capitalismo e criaram teorias que combatesse o modo de vida pouco social que o mundo vivia. Assim como seus colegas, ele viveu na sociedade em transformação do final do século XIX, época de desenvolvimento do sistema capitalista de produção industrial. Marx desenvolveu teorias críticas ao sistema, e de proposição do comunismo.

O que é o capitalismo

O capitalismo nada mais é que a definição de um sistema econômico. O capitalismo surge num contexto em que a burguesia, vinculada inicialmente à manufatura, se revolta contra o regime absolutista, ligado à exploração de metais preciosos e a troca de produtos oriundos das colônias. Esse período ficou conhecido como “período mercantilista” e foi marcado pelo surgimento do estado moderno e pelo fortalecimento e subsequente decadência das monarquias absolutistas.

O mercantilismo se baseava na manutenção de uma balança comercial favorável através do protecionismo, na exploração de colônias e no acúmulo de metais preciosos, oriundos das colônias ou da troca entre metrópoles. Esse acúmulo de metais preciosos, o fortalecimento da burguesia nacional, tanto pelo comércio externo como interno, e o surgimento das primeiras máquinas a vapor vão criar o momento propício para a superação do mercantilismo e da monarquia pela revolução industrial e burguesia.

O capitalismo vai se fortalecer como ideologia dominante a partir do século XVIII. Ele substitui o absolutismo e prega principalmente a manutenção da propriedade privada como melhor forma de organização econômica. Podemos dizer que a propriedade privada é o pilar do capitalismo, sendo sua principal expressão a propriedade privada dos meios de produção.

Como o capitalismo se difundiu no mundo?

O principal filósofo do capitalismo, ou liberalismo, é o pensador britânico Adam Smith, que fornece as bases teóricas para o desenvolvimento da economia moderna. Adam Smith explica em sua obra que o mercado é movido por leis naturais e que é melhor para a burguesia que o estado não interfira nas movimentações do mercado, já que o mesmo se autorregularia.

Adam Smith também entende que aquilo que é melhor para os indivíduos seria melhor para a sociedade como um todo. Ou seja, o indivíduo deve buscar a realização das suas necessidades e vontades de forma a melhorar a sua vida e que isso traria a paz social. Porém essa premissa logo foi quebrada quando no século XX o capitalismo atingia o seu ápice.

O início da revolução industrial é também marcado pela não regulamentação do trabalho, onde podíamos observar turnos de 12 a 16 horas, exploração do trabalho infantil e salários de fome. Tudo isso trouxe um grande empobrecimento para a classe trabalhadora. É justamente nesse cenário que surgem os discursos de Karl Marx e Weber em meio à classe trabalhadora.

Quem foi Karl Marx ?

Karl Marx foi o contemporâneo ao crescimento das fábricas na Europa após o início da Revolução Industrial na Europa. Ele documentou em seus escritos as desigualdades sociais advindas dos novos modos de produção, e as péssimas condições de trabalho e de remuneração dos operários daquela época.

Karl MarxEle foi crítico da sociedade capitalista ao dizer que os detentores do capital, os donos dos meios de produção, os chamados capitalistas, formavam uma classe dominante que utiliza de sua ideologia para manipular os dominados, o proletariado, e que possuíam apenas sua força de trabalho.

Nesta imagem do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, o cineasta fez uma crítica bem humorada do trabalho alienante nas fábricas. No campo da política, Chaplin e Marx estavam em territórios opostos. Charles Chaplin foi um crítico dos regimes comunistas totalitários, bem como de outras formas de ditadura.

O que é capitalismo

As análises críticas de Marx a respeito da sociedade capitalista tiveram grande impacto nos meios intelectuais e serviram de inspiração para ações políticas orientadas para a implantação do comunismo.

Marx foi influenciado pelas ideias iluministas, acreditava na razão como meio de compreender a realidade e de construção de uma sociedade mais justa, e também foi influenciado pelo pensamento do filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel, que criou o método dialético, formado pela tríade Tese; Antítese; e Síntese.

Marx partiu desta formulação de Hegel e sugeriu uma proposição onde a sociedade capitalista iria caminhar através de sucessivas teses e antíteses para uma síntese futura que na ótica de Marx seria o comunismo, com o exercício do poder pela classe proletária, e que seria detentora dos meios de produção.

O Materialismo Histórico de Karl Marx

O materialismo histórico é o método desenvolvido pelo pensador para explicar o funcionamento das sociedades humanas em todas as épocas. Marx explica que as relações sociais são construídas de acordo com as relações materiais de existência. A forma como os indivíduos manifestam sua vida reflete muito exatamente aquilo que são.

O que são coincide, portanto, com a sua produção, isto é, tanto com aquilo que produzem como com a forma como produzem. Aquilo que os indivíduos são depende, portanto, das condições materiais de sua produção.

Marx analisa a sociedade a partir da existência de seres humanos que, por meio da interação com a natureza e com outros indivíduos, buscam sua sobrevivência, e nessa atividade, recriam a si próprios e reproduzem sua espécie num processo que é continuamente transformado pela ação de sucessivas gerações.

o que é capitalismoO homem produz a si próprio e recria sua espécie por meio do trabalho, ao longo de gerações

A principal atividade humana para o pensador é o trabalho, como um processo de produção e reprodução da vida. Deste modo por meio do trabalho o homem constrói sua história. Esta reprodução da vida humana por meio do trabalho é o fundamento do materialismo histórico, utilizado por ele para analisar a vida econômica, política, social e intelectual.

Marx explica também que os fenômenos sociais e culturais são transitórios, portanto as formas econômicas de produção e de consumo são também transitórias e históricas. Os homens ao adquirir novas forças produtivas, modificam seu modo de produção, gerando mudanças nas relações econômicas.

Também as ideias, gostos, crenças, ideologias, elementos gerados socialmente são transitórios, dependem do modo como os homens se organizam para produzir.

A Luta de Classes

Para Marx a história das sociedades que estão baseadas na apropriação privada dos meios de produção confunde-se com a história das lutas de classes. O pensador procura evidenciar os antagonismos de interesses presentes em uma sociedade de classes. O conflito é algo inerente a essa sociedade já que a relação entre classes está baseada na exploração e na desigualdade social.

Apesar das relações de classe não se limitarem somente a polaridade entre detentores dos meios de produção e assalariados, já que existem outras relações como a classe média, por exemplo, esta relação conflituosa é que acaba por permear toda a vida social.

o que é capitalismoFonte: https://blogdotarso.com/2014/01/19/luta-de-classes-paul-singer/

Marx distingue dois tipos de classes: classe em si e classe para si. A primeira seria constituída de grupos de pessoas que compartilham de uma mesma situação, a segunda seriam grupos que passam a ser organizar politicamente para defenderem conscientemente seus interesses, formando uma identidade de classe.

As condições econômicas transformam primeiro a massa da população do país em trabalhadores. A dominação do capital criou para esta massa uma situação comum, interesses comuns. Assim, pois, esta massa já é uma classe com respeito ao capital, mas ainda não é uma classe para si. Na luta esta massa se une, se constitui como classe para si.

Marx também acredita que por meio da luta de classes é que ocorrem as transformações na sociedade, é o motor da história, a classe explorada é o agente de mudança. A luta de classes irá conduzir à ditadura do proletariado, sendo esta a transição para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes.

Videoaula

Veja agora, com o professor Alan, uma síntese que vai ajudar você a compreender toda a dimensão do pensamento marxista.

O capitalismo e o fetichismo da mercadoria

O sistema capitalista sustenta-se graças ao desenvolvimento tecnológico que traz novos e modernos elementos e aumento da produtividade. Este aumento na produtividade se dá devido ao que Marx chamou de divisão do trabalho social, em que cada qual realiza sua atividade individual abstrata, sua “especialidade”, sem relação com o produto final. Este sistema atende aos interesses particulares dos grupos dominantes e muito eventualmente o trabalhador.

As decisões a respeito do trabalho do proletário são tomadas pelo empregador. O trabalhador acaba por perder o prazer por seu ofício, como se fosse um apêndice da máquina, e que pode ser facilmente substituído por outro trabalhador que negocie melhor preço por sua força de trabalho.

O trabalhador está alienado do produto do seu trabalho. Por uma ironia histórica, as imagens que mais são utilizadas para mostrar os trabalhadores alienados são do filme Temos Modernos, de Charles Chaplin. O clássico do cinema mudo mostra o Homem como se fosse uma peça da grande engrenagem industrial, um apêndice da máquina.

Dentro dos escritos contemporâneos que interpretam as teorias de Marx o uso das imagens do filme de Chaplin é feito para ilustrar que o produto do trabalhador parece ter surgido independente de seu produtor, como uma espécie de feitiço.

As mercadorias no sistema capitalista ocultam as relações sociais de exploração do trabalho. O fetichismo da mercadoria é esta espécie de obscurecimento das percepções, como se a exploração do trabalho não ocorresse e as relações sociais existissem sob a forma de objetos, mercadorias.

A teoria da Mais-Valia

No sistema capitalista o trabalhador vende sua força de trabalho como uma mercadoria, contudo esta tem características distintas das outras mercadorias. O trabalhador oferece sua força de trabalho e o empregador paga com o salário. Estabelece-se uma ideia de igualdade, os homens são iguais diante da lei, do Estado, do mercado e etc, e se veem dessa forma.

Contudo o valor de sua força de trabalho durante o tempo que está produzindo é maior do que seu salário. Este trabalho excedente é o valor não pago e que integra o capital, transformando-se na riqueza dos dominantes.

Riqueza criada pelos trabalhadores: mais-valia.

Este trabalho excedente é o que Marx denomina de mais-valia, que se traduz no grau de exploração da força de trabalho pelo capital. O que impede o trabalhador de perceber que existe um excedente de seu trabalho que não é pago é sua situação de alienação.

As ideias de Marx foram fonte de inspiração para a Revolução Comunista na Rússia, desencadeada em outubro de 1917. O sistema de gestão comunista foi implementado no país. Na Segunda Guerra Mundial os russos aliaram-se aos ingleses e norte-americanos (capitalistas) para derrotar Hitler e o exército nazista.

Com o fim da Segunda Guerra uma parte dos países da região Leste da Europa ficou sob gestão comunista, sob a sigla União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, enquanto a parte Oeste e os países nórdicos permaneceram alinhados com a ótica da democracia liberal.

O bloco comunista vigorou até o ano de 1889, quando “A queda do muro de Berlim” encerrou o grande ciclo comunista na Europa. O sistema “ruiu por dentro”, e foi desmontado sem que passasse por uma guerra militar interna ou externa.

Paródia sobre Karl Marx

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Questões de Vestibulares sobre Karl Marx

Questão 01- (Ueg 2015)
Para Marx, diante da tentativa humana de explicar a realidade e dar regras de ação, é preciso considerar as formas de conhecimento ilusório que mascaram os conflitos sociais. Nesse sentido, a ideologia adquire um caráter negativo, torna-se um instrumento de dominação na medida em que naturaliza o que deveria ser explicado como resultado da ação histórico-social dos homens, e universaliza os interesses de uma classe como interesse de todos. A partir de tal concepção de ideologia, constata-se que:

a) a sociedade capitalista transforma todas as formas de consciência em representações ilusórias da realidade conforme os interesses da classe dominante.
b) ao mesmo tempo que Marx critica a ideologia ele a considera um elemento fundamental no processo de emancipação da classe trabalhadora.
c) a superação da cegueira coletiva imposta pela ideologia é um produto do esforço individual principalmente dos indivíduos da classe dominante.
d) a frase “o trabalho dignifica o homem” parte de uma noção genérica e abstrata de trabalho, mascarando as reais condições do trabalho alienado no modo de produção capitalista.

Questão 02 – (UECE/2019)
As contribuições de Karl Marx e Max Weber formam a base da maioria das análises sociológicas sobre a estruturação e organização da sociedade em classes sociais.

Assinale a opção que corresponde ao conceito de classe social na perspectiva de Karl Marx.

a) Existe entre as classes uma relação de dominação estabelecida a partir do lugar que os indivíduos ocupam nas religiões.

b) As classes sociais estruturam a sociedade e por meio delas são construídas as relações de interesses harmônicos entre os grupos sociais.

c) Classe social é uma invenção teórica e não tem correspondência com a dinâmica de estruturação das sociedades contemporâneas.

d) Uma classe social é um grupo de pessoas que se encontra em uma relação comum com os meios de produção por meio dos quais elas extraem seu sustento.

Questão 03 – (ENEM/2013)
Na produção social que os homens realizam, eles entram em determinadas relações indispensáveis e independentes de sua vontade; tais relações de produção correspondem a um estágio definido de desenvolvimento das suas forças materiais de produção. A totalidade dessas relações constitui a estrutura econômica da sociedade – fundamento real, sobre o qual se erguem as superestruturas política e jurídica, e ao qual correspondem determinadas formas de consciência social.

MARX, K. Prefácio a Crítica da economia política.
In. MARX, K. ENGELS F. Textos 3.
São Paulo. Edições Sociais, 1977 (adaptado).

Para o autor, a relação entre economia e política estabelecida no sistema capitalista faz com que

a) o proletariado seja contemplado pelo processo de mais-valia.

b) o trabalho se constitua como o fundamento real da produção material.

c) a consolidação das forças produtivas seja compatível com o progresso humano.

d) a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao desenvolvimento econômico.

e) a burguesia revolucione o processo social de formação da consciência de classe.

Questão 04 – (ENEM/2013)
O servo pertence à terra e rende frutos ao dono da terra. O operário urbano livre, ao contrário, vende-se a si mesmo e, além disso, por partes. Vende em leilão 8,10,12,15 horas da sua vida, dia após dia, a quem melhor pagar, ao proprietário das matérias-primas, dos instrumentos de trabalho e dos meios de subsistência, isto é, ao capitalista.

MARX, K. Trabalho assalariado e capital & salário, preço e lucro.
São Paulo: Expressão Popular, 2010.

O texto indica que houve uma transformação dos espaços urbanos e rurais com a implementação do sistema capitalista, devido às mudanças tecnossociais ligadas ao

a) desenvolvimento agrário e ao regime de servidão.

b) aumento da produção rural, que fixou a população nesse meio.

c) desenvolvimento das zonas urbanas e às novas relações de trabalho.

d) aumento populacional das cidades associado ao regime de servidão.

e) desenvolvimento da produção urbana associada às relações servis de trabalho.

GABARITO:

1 – Gab: D

2) Gab: D

3) Gab: B

4) Gab: C

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